sexta-feira, 18 de março de 2011

Missa Cantada na Forma Extraordinária em Honra a São José

Dia 19 de março, festa de São José, às 8h
Local: Igreja Nossa Senhora Aparecida, no Patronato, Rua Francisco Portela, 762 São Gonçalo – RJ.
Celebrante: Pe. Anderson Batista da Silva.
A missa tradicional em latim está sendo celebrada todos os sábados, às 8h, na paróquia, independentemente da Cruzada do Imaculado Coração de Maria, que ocorre todos os primeiros sábados do mês.



Testemunho de Pe.Pedro Muñoz Iranzo
Confiteor


A reforma da liturgia acabou com quatro características da oração Confiteor antiga:

A vénia profunda em que a oração era dita;

A estrutura da oração como um diálogo entre o sacerdote e a congregação;

A invocação de vários santos pelo nome; e, finalmente,

A absolvição sacramental.

A inclinação profunda é a parte mais antiga da oração. Nos primórdios do Cristianismo cada missa começava com a prostração. Uma pessoa atirava-se ao chão de modo a abordar-se dos reis orientais. Os primeiros Cristãos, por esta razão, escolheram esta forma tão reverente de mostrar devoção e submissão quando tinham que entrar na presença do Deus-homem e Seu sacrifício. Inicialmente nada era dito. No séc. VIII surgiu o costume de se dizer neste momento, durante a prostração (que evoluiu gradualmente para uma vénia profunda), a confissão de pecados como tinha sido prescrito desde o início para o começo do rito sacrificial do Novo Testamento.

A forma de diálogo do Confiteor deriva do ofício divino dos monges. Sempre foi trocado entre dois vizinhos no coro; um monge confessava os seus pecados ao outro – o outro monge implorava pela misericórdia de Deus para ele. Na missa solene pontifical do rito antigo esta tradição é preservada; o Confiteor é recitado por dois cónegos. Esta forma surgiu a partir da percepção de que a maioria dos pecados contra Deus são ao mesmo tempo pecados contra o próximo, que o arrependimento deve conduzir à reconciliação e que todo homem deve confiar na oração de outros. É necessário um ouvinte de modo a que realmente seja reconhecia a própria culpa. De modo a que, após a confissão, a oração de intercessão do ouvinte possa efectivamente desenvolver quem se confessa é obrigado a manter silêncio. Outro elemento de significado foi adicionado quando a relação entre vizinhos de um banco se tornou uma relação entre sacerdote e congregação. O sacerdote, que tinha sido chamado para realizar o sacrifício na pessoa de Cristo, confessava agora perante a comunidade toda sua imperfeição e, curvando-se profundamente, esperava a sua intercessão. Poderá-se dizer que só isso lhe dava a coragem para subir ao altar.

A fórmula “indulgentiam” que acompanha a confissão dos pecados e as petições para o perdão é uma fórmula inicial para a absolvição. O sinal da cruz que o sacerdote faz ao dizer esta oração tomou o lugar da imposição das mãos. A relação desta absolvição com a absolvição no sacramento da penitência não será examinada em maior profundidade aqui. Em qualquer caso, é evidente que a Igreja considerava o “indulgentiam” como um sacramental, que absolve os pecados veniais. Que a celebração do sacrifício começava com a absolvição era apenas lógico para um culto que tinha como objecto a representação da morte sacrificial de Cristo – uma morte para a redenção dos homens do fardo de seus pecados.

Estes três elementos do Confiteor uniam a comunidade que celebrava com o Cristianismo primitivo e o monaquismo, concretizando a confissão geral do pecado e revelava-o como o primeiro estágio do sacrifício. Em contraste com a sua remoção, a substituição dos nomes individuais dos santos através da fórmula “e todos os santos” é o mais fácil de aceitar. O Céu aparece nestes nomes como uma família hierarquicamente estruturada real. No topo está a “Rainha dos anjos, patriarcas e apóstolos”, depois o “príncipe dos exércitos celestiais”, posteriormente o “primeiro dos nascidos de mulher” e, finalmente, os “príncipes dos apóstolos”. Inúmeras obras de arte adoptaram esta linguagem figurativa, perpétuamente em formas novas. O seu núcleo é a visão de que a ordem é inerente à criação de Deus; sim, que o próprio Deus é a ordem. O homem medieval ainda podia imaginar que, mesmo entre os salvos, existem diferentes graus de proximidade com Deus e diferentes tipos de relação com Ele. Será que os “reformadores” acreditaram no final que tinham de acomodar convenções democráticas, especialmente enfatizando a igualdade de todos os “santos” efectuada pela redenção? Ou será que eles só queriam eliminar um elaborado floreado gótico quando baniram do Confiteor o cortejo hierarquicamente estruturado dos santos?

A beleza dos textos litúrgicos muitas vezes reside no facto de que revelam significados a diferentes níveis. Levam-nos à meditação e revelam-se à meditação. A hierarquia dos santos aparece aqui como uma metáfora para a ordem divina numa oração relativa à confissão do pecado, que é desordem. Não é de estranhar que todos os representantes desta ordem têm algo de especial a dizer à desordem do pecado que lhes é revelado na oração.

A lista começa com Maria. Ela representa a forma original do homem: Deus pretendeu que o homem fosse o que Maria é. Intocada pelo pecado original e com a virgindade imaculada, assemelha-se ao homem no sexto dia da criação: inteiro, a imagem e semelhança de Deus, transparente para o fluxo incessante de graça. Como é Maria, assim deve ser o pecador. A restauração do pecador comporta as características de Maria na personalização icónica.

O Arcanjo Miguel está ligado ao mistério da génese do mal. Ele lutou contra Satanás e, portanto, a fonte de pecado e de todo pecado individual que, como o seu modelo diabólico, consiste na rebelião contra a ordem divina. Mas o Arcanjo Miguel também lembra-nos que o diabo foi derrotado. Ele pode tentar o indivíduo pecador, mas nunca dominar sobre a criação de Deus. Olhando para o arcanjo o pecador reconhece a origem e a impotência de seu ato.

João Baptista mostra o caminho da redenção: a conversão. É um ato espiritual, mas deve ser expresso com atividade de modo a comunicar ao pecador a realidade de sua decisão. A água, que lava a sujidade do corpo, também deve lavar a alma suja. A oração tem de desviar de si o espírito aprisionado no amor-próprio. Privação corporal tem de libertar a alma da pressão do hábito. João Baptista encarna os passos práticos que o pecador pode tomar se desejar libertar-se do pecado.

Pedro tem as chaves do reino dos céus, ele representa o poder de absolvição da Igreja. Ele comunica ao pecador que deseja converter-se a certeza de que o verdadeiro perdão irá responder ao seu desejo – mesmo que, com bastante frequência, esse desejo seja aceite no lugar do acto. Cristo, o perdoador do pecado, está presente em Pedro e na Igreja. Pedro, acima de todos os outros, tinha experimentado o Seu poder perdoador. Pedro é o sacramento, o vaso indigno através do qual o poder de Deus flui.

Finalmente, Paulo ensina a condição sob a qual se desenvolve o sacramento: a crença do pecador de que Cristo pode curá-lo das suas enfermidades. Esta fé é um dom da graça. Com este dom começa o trabalho de restauração do pecador. O objectivo dessa restauração é o homem nascido de novo na graça. Com isso o círculo é fechado. O contemplativo procedia de Maria e retorna a ela.

Ao pregar suas doutrinas a Igreja antiga escolheu uma e outra vez o caminho de torná-las visíveis sob a forma do homem. O semblante do homem deu-lhes uma vida da qual careciam as formulações teóricas. As figuras dos santos como entendido pela Igreja antiga não são decorações piedosas ou “Cartão de plástico Romano” (como escreveu André Gide) produzido em massa . Quem acredita que pode eliminá-los sem diminuir o ensinamento de Jesus Cristo não entende a essência da Igreja – que consiste, acima de todo, desses próprios santos. No caso da oração do Confiteor, são estes mesmos santos que ensinam o fiel a compreender sua confissão correctamente. Pois ele a dirá de forma diferente quando sabe que os seus olhos estão sobre ele.

Martin Mosenbach
Fonte:Una Voce