terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

COISAS DO CULTO DIVINO




COISAS DO CULTO DIVINO

1       A Casa de Deus.
2       Na Casa de Deus.
3      A pia da água benta.
4     A aspersão – Caldeirinha com o hissope.
5      O cantochão ou gregoriano (cantoria).
6       O incenso (naveta).
7     O turíbulo.
8      O altar (fixo, móvel e portátil).
9     O Tabernáculo.
10.   As toalhas.
11.   O Corporal com a Bursa.
12.   A pala.
13.   O purificatório.
14.   O manustérgio.
15.   O cálice com o véu.
16.   A vela com Castiçal.


1.       A Casa de Deus.

Igreja é o termo tomado da língua grega; significa assembleia, reunião de fiéis. É neste sentido que se reza: “Creio na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana”.
Esta denominação passou das assembleias aos lugares em que se realizavam tais reuniões. É neste sentido que aqui tomamos a igreja: consideramos e contemplamos a Casa de Deus, este edifício, em que se reúne o povo cristão, em que se rende culto devido a Deus; pois que nela habita Deus.
Desde os primeiros tempos de sua existência o cristianismo se empenhou seriamente em como aparelharia uma morada digna do grande Deus, que se compraz em viver entre homens.
Do começo usou edifícios já existentes, moradas de particulares; estas íam sendo acomodadas às necessidades do culto litúrgico; e porque, comumente, de gente rica, eram essas moradas amplas, de forma que já no principio do século III possuía o cristianismo edifícios esplêndidos e grandiosos, chamados “Domus Ecclesiae”, casas de reunião, com átrios e amplos abrigos.
Bem cedo se passou a cognominá-las basílicas, sendo que estas eram a parte principal dos edifícios. Passada a era das perseguições, tornaram-se as basílicas monumentos notáveis, em que a arte atingiu o apogeu nas múltiplas manifestações do espírito humano, criando incomparáveis obras primas.
A ábside da igreja é geralmente voltada para o oriente, donde veio Jesus Cristo e onde se acha seu glorioso sepulcro. O cruzeiro, que corre norte-sul, simboliza a cruz, em que Cristo deu a vida.
Os sinos das igrejas, quanto se pôde averiguar, remontam ao século VI. Até esta época usavam-se as trombetas ou as matracas para convocar o povo fiel.
A igreja é a Casa de Deus e do cristão. Nela os fiéis adoram, agradecem,  expiam e imploram de Deus o quanto lhes é mister.
É ainda, e de modo particular, a casa do Sacerdote. Nela o Sacerdote imola, perdoa, instrui, e reza. Lugar, em verdade, santíssimo em que o Sacerdote implora e roga pelos delitos e pecados do povo!
Mas todas as prerrogativas e toda a dignidade da igreja provêm de ser ela a Casa de Deus. A liturgia ou as cerimônias religiosas que se praticam, já na construção, já na consagração ou dedicação das igrejas, interpretam admiravelmente estes pensamentos.
Quando o bispo ou seu delegado coloca a primeira pedra de uma igreja e impetra sobre ela as bênçãos do Senhor, a liturgia relembra de modo especial que esta pedra é a imagem de Jesus Cristo, a pedra angular e irremovível que sustenta o edifício da grande Casa de Deus ou Família de Deus, a Igreja.
Chegado o momento da consagração do novo templo, o bispo o faz ostentando toda a riqueza e majestade dos ritos da liturgia, repassados de entusiasmo e alegria; é que se consagra a morada para o Hóspede divino dos nossos tabernáculos.
Inicia-se a consagração com longas purificações. Os muros externos são aspergidos com água benta, contornados três vezes.
A igreja abre suas portas ao Rei da glória, ao Deus forte e onipotente. O consagrante purifica as paredes internas e externas três vezes, bem como o soalho do templo, do norte ao sul e de leste a oeste. Introduzem-se então as relíquias dos santos que hão de constituir a corte do Deus dos céus. Estas passam pela porta que o bispo ungiu com o sagrado crisma; e o sepulcro do altar consagrado as recebe para sempre.
Depois, ungem-se doze colunas, caso as houver, aliás doze pontos das paredes com o óleo santo, para simbolizar os doze apóstolos, sustentáculos da nossa fé.
Note-se porém, que tal consagração só se faz em igrejas de pedras ou de tijolos – as de madeira, ferro e outros metais só se podem benzer. Em nenhuma igreja se pode celebrar se não tiver recebido antes a benção ou a consagração.
É desta forma que a Casa de Deus fica exorcizada, purificada e consagrada. O príncipe das trevas é dela expulso a fim de deixar a nova morada ao domínio do Príncipe da Luz, Jesus Cristo. Jacob, sabendo que dormira em lugar consagrado a Deus, exclamou tremendo: “Quão terrível é este lugar! Só pode ser a casa de Deus e a porta do céu!” (Gen 28,17)
Terrível, sim, mas só para os demônios e seus asseclas!

2.       Na casa de Deus.

Sacerdotes do Senhor e fiéis, entremos neste lugar de oração, com a mente e o coração puros! Aqui, melhor que alhures, recebe Deus as nossas homenagens e despacha as nossas petições! Indo para avizinhar-se do arbusto em chama, ouve Moisés a voz do Senhor, que lhe diz: “Descalça as sandálias, porque a terra que pisas é santa!” (Êx 3, 5)
É o mesmo Senhor que nos interpela dizendo: “Purificai o vosso coração; despi-vos do vosso amor próprio; sacudi dos pés o pó do espírito mundano; não vos deixeis atrair da curiosidade para os lugares profanos; entrai com temos e acatamento no santuário do vosso Deus; recolhei-vos, enfim, à sua presença!”
3.       A pia da água benta.
A água benta. A benção da água é uma cerimônia litúrgica antiquíssima, Tertuliano, no século III, fala da água santificada por meio da invocação de Deus.
A benção mais solene da água foi sempre a da fonte batismal, que se faz nas Vigílias da Páscoa e Pentecoste.
Nos primeiros séculos muitos do povo cristão levavam às suas casas um pouco de água benta, antes que fosse misturada com o sacro crisma, a fim de aspergir as casas e os campos. Generalizando-se este costume, tornou-se muito cedo tão grande o número de pretendentes desta água que, não bastando a que fora benta nas duas preditas solenidades, ordenou Carlos magno em seus Capitulares (Código de leis dividido em capítulos) que se benzesse a água em todos os domingos do ano antes da Missa.
O rito da benção da água está cheio de belos significados. O sacerdote toma sal e água, que primeiro exorciza, e, misturando-os em seguida, os benze recitando algumas orações.
Que significam estas cerimônias e matérias?
A tarefa própria do sal é preservar da corrupção; a da água purificar. O sacerdote os exorciza, isto é, os livra de todo o contato diabólico, coisa que a Igreja faz sempre que eleva alguma criatura ao uso santo. Mistura-os o sacerdote para que esta água consagrada tenha em si a virtude que preserva da corrupção e a que purifica. Lança-lhes a bênção ainda, com o sinal da cruz, que é a arma da defesa contra os inimigos da salvação e a fonte de toda a graça. Reza, enfim, implorando a virtude de poder, mediante esta água, expulsar o diabo das nossas almas, dos nossos corpos e das nossas casas; curar as nossas doenças e atrair sobre nós o socorro do espírito Santo.
Possui a água benta o poder de apagar os pecados veniais de todos os que dela se servem com fé em Jesus Cristo e com o arrependimento das próprias culpas.
“Lavai-me, Senhor, sempre mais das minhas iniquidades e purificai-me dos meus pecados.” (Sl 50, 4)
4.       A aspersão – caldeirinha com hissope.
A aspersão do altar e da Casa de Deus que é prescrita para certas igrejas antes de começar a Santa Missa Solene, e é louvavelmente praticada nas matrizes, oncorre belamente para instruir o povo fiel acerca de grande e importante verdade: é necessário que nós nos purifiquemos antes de assistir ao Santo sacrifício. São numerosíssimas as purificações prescritas na Lei antiga, aos sacerdotes e ao povo que se propõe a fazer suas oblações a Deus. E, todavia, quão inferiores são os sacrifícios de Israel aos dos cristãos! A nação alguma foi dado ter a divindade tão perto, como o nosso Deus nos é tão vizinho, exclama São Tomás.
Enquanto se vai procedendo à aspersão, o coro canta a antífona: “asperges me, Domine, hyssopo, et mundabor, lavabis me et super nivem dealbabor”. – Aspergi-me Senhor, com o hissope, e serei purificado; lavai-me, senhor, e serei mais alvo que a neve.
Asperge-se primeiramente o altar, para afugentar o espírito das trevas que se introduz em toda a parte, mesmo no santuário.
A seguir, o sacerdote se asperge a si mesmo; pois, se a pureza há de ser o condão de todos, é evidente que deve ser particularmente do sacerdote, que se propõe percorrer as filas dos fiéis, levando-lhes as graças da purificação.
Segue a aspersão dos fiéis. E, à medida que vai desempenhando estas cerimônias, recita a meia voz, com os seus ministros, o “Miserere”, expressando os sentimentos de penitência, que o animam a ele e aos fiéis, dispondo-se assim a receber os dons divinos.
Durante o tempo Pascal, ou melhor, desde a Páscoa a Pentecoste, o coro canta uma outra antífona, acompanhada da primeira estrofe, não já do “Miserere” mas do Salmo 117: “Confitemini Domino”: - “Vidi aquam egredientem de templo a latare dextro, aleluia! Et omnes ad quos pervenit aqua ista salvi facti sunt et dicent: aleluia, aleluia, aleluia!” – Vi a água romper do lado direito do templo, aleluia! E salvaram-se todos os que foram aspergidos com esta água; e todos dirão: aleluia, aleluia, aleluia!
Mas por que este canto durante o tempo pascal? É  que antigamente era nos dias de Páscoa e Pentecoste que se administrava o santo sacramento do Batismo aos catecúmenos. A antífona relembra os frutos salutares do sacramento da regeneração. Convida-nos a Igreja à alegria e ao recolhimento, por tão grande benefício. Entende-se, por isso que estaria fora de lugar o “Miserere”, que é próprio para dias de dor e penitência.
Se tivéssemos maior fé, de certo estaríamos sempre em tempo na igreja a fim de participar das graças da aspersão!

5.       O cantochão ou gregoriano.

O coro canta, e canta um canto todo próprio da Santa Igreja, um canto sagrado pela elevação divina dos pensamentos e melodias.
Longe de ser inferior a qualquer outro, o Canto Gregoriano supera a todos pela expressão da prece, que irrompe tão intensa quão simples da alma humana que procura a Deus.
O Canto gregoriano merece ser aqui recordado por constituir uma nota característica na santa Missa Solene, e nos demais ofícios divinos.
O nome de “cantus planus” – cantochão – orignou-se da sua simplicidade; assim, foi chamado a partir do século XIV, em oposição ao canto compassado e figurado que entrou a lhe fazer concorrência.
Chama-se ainda canto pausado por causa da sua cadência tranquila, pausada, determinada, fixa; “cantus choralis” – canto coral – por ser destinado ao coro; canto litúrgico, por ser reservado à liturgia; canto gregoriano, nome mais em uso, por ter sido formado para a Igreja pelo grande papa São Gregório Magno (+604); canto grego ou hebreu o chamaríamos também por ter estado muito em uso na antiga Grécia, nas encenações das imortais tragédias de Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e nas sinagogas judaicas.
Algo de sua história.
A Igreja respigou seus cantos do Oriente, isto é, dos gregos e dos hebreus. Foi São Gregório que se incumbiu de corpo e alma em colecionar, aumentar, codificar o repertório musical existente. O cantochão teve intensa repercussão e extensa difusão principalmente no império dos Francos, no reinado de Pepino e Carlos Magno. Fundaram-se desde o século IX em São Galo e em Metz célebres escolas de cantochão, que ombreavam com as do “Laterano” em Roma. No século XII foi fundada outra em Chartres, dirigida pelo célebre São Fulberto. Mas quem facilitou a execução do cantochão foi o monge Guido de Arezzo no século XI.
O cantochão foi ensinado e praticado nas aulas durante toda a Idade Média, com tal qual interesse; mas, criada a polifonia no século XVI, perdeu ele a sua pureza; até que o Padre Guéranger, de imorredoura memória, incitou seus monges, no século passado (XIX), a que procedessem novamente a sábias e inteligentes pesquisas para reintroduzir e reintegrar o cantochão na sua primitiva pureza. Conhecem todos as “Melodias gregorianas segundo a tradição” do padre Pothier, publicadas em 1880, verdadeira obra prima. A edição vaticana do canto eclesiástico, publicada por São Pio X, em 1907, inspirada na de Solesmes de 1885, tornou-se oficial na Igreja toda, pelo decreto de 7 de Agosto de 1907.
O canto gregoriano é verdadeiramente oração, a oração cantada pela unidade cristã: uma voz, uma melodia, uma alma, um coração, uma única prece, poderosa como o concerto universal da Igreja inteira.
Quanta gravidade, quanta paz, quanta majestade nesse canto! Que simplicidade de mios para produzir, sem rebusca-lo, este grandioso efeito! Não há sentimento nobre da lama coletiva do povo cristão que o canto gregoriano não exprima com exatidão e calma divinas.
O “Motu proprio” do papa São Pio X (22 de Novembro de 1903), que regula a natureza e as condições do canto chão, não exclui, de forma alguma, qualquer outro gênero de música religiosa. Louva antes o uso da polifonia clássica “à lá” Palestrina nas grandes igrejas e catedrais. Não condena tão pouco o que a escola moderna pode contribuir em beleza e dignidade para o harmonioso conjunto que torne o canto verdadeira prece. Importa, porém, ter sempre ante os olhos esta regra geral que expõe nestes termos: “Uma composição musical eclesiástica é tanto mais sagrada e litúrgica, quanto mais se aproxima no movimento, na expressão e no gosto da melodia gregoriana; é tanto mais indigna da Igreja, quanto mas se aparta deste soberano modelo”.
Um sacerdote, cura de uma paróquia, não poderia imaginar o progresso que obteria na vida espiritual e religiosa de seus paroquianos, se, em suas igrejas, a oração cantada com melodias gregorianas atingisse a perfeição que se exige em sua execução. Há no cantochão um elemento essencial e importante para reformar qualquer paróquia.

6.       O incenso – Naveta.

E enquanto os ouvidos se embalam e a alma se eleva às regiões superiores com as suaves melodias do cantochão, turvam os olhos e o olfato nuvens espiraladas que ascendem do turíbulo ao alto e enchem a igreja toda.
É o incenso cuja origem, símbolo e uso despertam certo interesse, como coisa inseparável em todas as solenes funções religiosas.
O incenso é uma substancia resinosa, extraída de uma planta que cresce na Palestina e na Arábia.
A língua latina tem duas palavras para indicar essa substancia: a palavra “thus”, de um verbo grego, que significa perfumar, e a palavra “incensum”, de um verbo latino, que quer dizer queimar, donde o termo incenso. Podemos reunir os dois significados e dizer que o incenso é um perfume destinado a se consumir em honra de Deus.
O uso do incenso era conhecido entre os Gregos e Romanos, que o ofereciam aos seus deuses. Em sinal de honra, era queimado também diante de personagens ilustres. Aos poucos foi usado outrossim para incensar os bispos, depois de pessoas em geral, por fim, os próprios objetos.

7.       O turíbulo.

O turíbulo é um instrumento litúrgico, em que crepita o fogo que devorará o incenso, e donde se evolará em nuvens aromáticas. Em sua origem era o turíbulo um enorme perfumador sem correntes e repleto de carvão aceso. Um mosaico de São Vital de Ravena prova que o turíbulo já era suspenso por correntes no século VI. Era o turíbulo carregado pelos acólitos e levado “ad nares hominum” – aos narizes dos homens – que estendiam para ele as mãos e recolhiam a si o fumo suave do incenso. Há testemunhos que depõem ter sido o incenso usado, desde o século II, para perfumar as igrejas; e só mais tarde se passou a usa-lo para incensar as pessoas e as cosas. A “Peregrinatio Sylvias ad loca santa” narra que na manhã do domingo, ao canto do galo, quando o Bispo e os seus ministrantes entraram no santuário do “Atanásis” (Ressurreição) já alumiado por numerosíssimas lâmpadas, após a oração e a salmodia, e antes que o Bispo lesse o Evangelho ao povo, eram carregados turíbulos; e a “Basílica da Ressurreição ficou cheia de um suave aroma”.
O uso do incenso na liturgia é ainda hoje muito frequente. É usado quase em todas as cerimônias litúrgicas: na Missa Solene; durante os ofícios das Laudes e das Vésperas; nas bênçãos do Santíssimo; e, entre outras, nas grandes bênçãos litúrgicas do ano, das velas, da Purificação, das cinzas, e das palmas.
Falar-se-á em seu lugar da incensação do altar durante a missa solene.
Também o incenso tem o seu simbolismo. Este aroma, que a Igreja usa em todas as solenidades, deve recordar-vos continuamente que devemos ter o bom cheiro de Jesus Cristo, e rescender em todo lugar o conhecimento e o amor de nosso Deus.
Ascendamos ainda mais alto para achar um belíssimo significado do incenso! Como o discípulo predileto, em sua visão de Patmos, contemplamos no céu os turíbulos de ouro, movidos pelos Anjos, junto ao trono do Cordeiro. Estes turíbulos estavam cheios de perfumes, narra o vidente; e revela-nos também que eles não eram outra coisa que as orações dos Santos. O incenso, portanto, segundo São João, simboliza também a oração; e quando se eleva ao céu, relembra-nos como há de ser a nossa prece; isto é, pura, ardente, aromatizante com o perfume das nossas virtudes.

8.       O altar (fixo, móvel e portátil)

Fixam-se agora os olhares mais intensa e demoradamente no altar. Os maiores e mais vivos sentimentos despertam à sua vista.
Que é o altar? Quantas espécies há? Que representa?
O altar significa coisa alta, “alta res”; e é uma tábua soerguida um tanto acima do solo, em que se oferece o sacrifício.
A igreja devia ter o seu altar, altar sagrado por excelência, porque a vítima que nele se imola é um Deus.
Há duas espécies de altares: o altar fixo ou imóvel e o altar portátil ou móvel. O primeiro consta de uma grande laje de pedra (geralmente de mármore) que descansa sobre um bloco ou colunatas da mesma matéria, e forma um todo consagrado e fixo soalho. O outro não passa de uma simples laje de pedra, assaz larga para pousarem sobre ela o cálice e a hóstia; e é engastada em uma lousa de pedra ou madeira. A pedra ou altar móvel consagrado pode ser transportado de um lugar para outro sem prejuízo da consagração, o que não se dá com o altar imóvel.
Há nas igrejas geralmente mais de um altar. O altar-mor, quase sempre fixo, é o principal; é o lugar em que se efetuam de preferências as sagradas cerimônias.
Os altares laterais não eram conhecidos nos primeiros séculos; principiaram a sê-lo, quando foi introduzido o costume de rezar mais missas simultaneamente em uma e mesma igreja.
Seja qual for o material com que se constrói o complexo de peças que compõem o altar, nele não poderá faltar nunca a lousa de pedra consagrada sobre a qual possam caber pelo menos a hóstia e o cálice.
Sobre o altar está colocada a cruz com a imagem de Jesus Cristo Crucificado, a fim de recordar ao celebrante e aos fiéis a paixão de Jesus Cristo, que o sacrifício renova misticamente.
Não podem faltar duas velas acesas, uma à direita, outra à esquerda do Crucifixo, em sinal da honra e veneração que se deve tributar à adorável vítima.
São regularmente três os degraus no altar-mor, e simbolizam as virtudes teologais da fé, esperança e caridade que conduzem a Jesus Cristo.
De fato, o altar representa Jesus Cristo; e disso adverte o bispo aos subdiáconos no dia da sua ordenação. O rito da consagração dos altares é comovente:  são mais de duzentos sinais da cruz que se fazem sobre o altar durante as cerimônias de sua consagração, o que bem deve lembrar o pensamento predominante do sacrifício da cruz.
O altar é de pedra, ao menos a parte que deve receber a hóstia e o cálice; ora, a pedra é uma figura de Jesus Cristo, “pedra angular” (Ef 2, 20) da Igreja, como chama São Paulo. Cinco cruzes estão gravadas nesta pedra e figuram as cinco chagas do Salvador.
É ela purificada por numerosas bênçãos, porquanto simboliza aquele Pontífice eterno, santo, inocente, imaculado, de quem fala o Apóstolo.
Passa ainda por diversas unções executadas com o óleo dos Catecúmenos e do Sagrado Crisma. Constitui emblema daquele de quem está escrito: “O espírito do Senhor descasa sobre mim; por isso ele me ungiu” (Lc 4 ,18)
No sepulcro desta pedra jazem algumas relíquias de Santos, devendo ser, ao menos uma delas, de um mártir, para assim relembrar o piedoso costume dos primeiros séculos em que se celebravam os santos mistérios sobre o sepulcro dos mártires.
O altar representa, portanto, Jesus Cristo; é a figura de Deus que reside no meio do seu povo.
9.       O tabernáculo.
Releva fixar a atenção no tabernáculo, que ocupa o centro do altar e é encimado de uma cupulazinha ou baldaquim. Encontra-se quase so no altar-mor. Sua finalidade, desde os tempos mais remotos, é guardar as sagradas hóstias e partículas das mesmas. O baldaquim é absolutamente necessário para que se possa expor o Santíssimo no ostensório.
O tabernáculo deve ser no interior revestido ou de ouro ou de seda branca, e no exterior, ao menos a parte da frente, de um véu chamado “conopéu’.
Sobre o tabernáculo não deve haver nada, afora o crucifixo. Assim o tabernáculo como o baldaquim devem ser de obra prima, tanto quanto possível. Em alguns lugares são riquíssimos e de execução artística. Neste sentido a Igreja não poupou nunca dinheiro ou tempo.
O altar há de ser exornado de forma que mereça, tanto quanto a matéria o possa, servir de morada de Deus três vezes santo.
Concorrem de modo especial a santificar o altar as relíquias dos Santos que, em arcas preciosas, ficam expostas sobre ele. É este costume muito antigo e muito digno e justo, porque digno e justo é que no momento da sacrifício do augusto e soberano Senhor, Cabeça dos fiéis, os Santos, como membros desse corpo, estejam presentes e se associem à glória do supremo ato da Religião Cristã.
Ordena, porém, a Igreja que, mesmo assim, se devem afastar do altar todas as relíquias e relicários durante a santa missa, que se celebra no tempo do advento e da quaresma, bem como durante o ofício de réquiem e a exposição do Santíssimo Sacramento.

As toalhas.

O que prende a atenção sobre o altar são as três toalhas de linho ou cânhamo alvíssimo Uma dessas se estende por sobre a ara sagrada de forma a encobrir quase inteiramente o altar dos lados e da frente. Duas outras que se ocultam aos olhares cobrem a mesa do altar e devem cobrir ao menos a pedra sagrada. O sacerdote que celebra sem estas três toalhas peca gravemente, como também se admite outras de pano que não sejam linho ou cânhamo. Sua finalidade é óbvia: pode suceder que se entorne o santíssimo Sangue e então uma única toalha não bastaria para recolher. O uso da toalha remonta ao menos ao século IV: isto se pode provar historicamente.
   O corporal com a Bursa.
Quero aqui antecipar a referência a outros panos, que, por rigor da ordem proposta neste trabalho, deveriam ser mencionados quando ocorressem no ato da celebração da missa. Faço-o para não distrair então a atenção, que reclamam coisas mais simples.
Assim, pois, importa saber que, afora as toalhas, que cobrem o altar, são usados, durante o santo sacrifício da Missa, o corporal, a pala, o purificatório e o manutérgio.
O corporal é um pano de linho do formato de grande lenço, que o sacerdote estende sobre o altar e em que se faz a consagração das sagradas espécies. É com muita razão que assim se chama: devido ao seu contato imediato com o adorável Corpo de Cristo. Que antigamente era ele muito mais amplo, é evidente: nele se depositavam os pães e o vinho dos fiéis para serem consagrados. Daqui a opinião de que nos primeiros tempos se prestava o corporal para o mesmo fim com a toalha; ou melhor: que o corporal e a toalha fossem um e a mesma coisa. A isto nos induz, outrossim, o fato de que então se cobria a mesa do altar para o sacrifício e era descoberta logo depois de acabado.
E quem não vê reproduzido este antigo costume nas atuais cerimônias, com que se desnudam os altares nas quintas-feiras santas e se cobrem com a toalha no dia seguinte?
12.   A pala.
A pala tem a forma quadrada, e serve para cobrir o cálice. Primitivamente era uma única peça com o corporal, cujas extremidades, dobradas por sobre o cálice se prestavam para cobri-lo. Tendo-se reduzido as dimensões do corporal, foi mister achar meio com que se cobrisse o cálice; daí a origem da pala.
Segundo as instruções da sagrada Congregação dos Ritos, a parte da pala, que toca diretamente o cálice, deve ser de linho ou cânhamo; tolera-se na parte superior a seda e os recamos; mas é proibida a cor preta, mesmo qualquer emblema de morte.
13.   O purificatório.
O purificatório é um pano, de proporções de lençozinho, que serve para enxugar o cálice. Os antigos não falam dele; só é conhecido que os monges de Cluny abstergiam o cálice com uma toalha dependurada junto ao altar, do lado da epístola; mas com o andar dos tempos foi substituída por um pano, que se tornou um acessório indispensável do cálice.
14.   O manutérgio.
O manutérgio é o paninho que o público vê facilmente, quando dele usa o celebrante para enxugar os dedos depois de lavados com a água, que o acólito sobre eles entorna na parte da missa, que se chama “Lavabo”.
Assim as toalhas, como o corporal e a pala, devem ser bentas pelo próprio bispo ou por um sacerdote para isso delegado. Para o purificatório a benção é facultativa. Para o manutérgio não há benção.
Assim como a nenhum leigo é permitido tocar, sem necessidade ou sem licença especial, o corporal, a pala e o purificatório, depois de terem sido usados na santa missa, muito menos os poderão lavar antes que o sacerdote ou o diácono e subdiácono os haja lavado primeiro.
Estas peças tem também seu simbolismo e sobretudo por serem de linho: simbolizam os lenços de linho, em que José de Arimatéia envolveu o Corpo do Senhor; e exercem realmente em cada santa missa a mesma função de receber em si o Corpo adorável de Jesus imolado sobre os nossos altares.
A alvura desses panos nos ensina que, se as nossas almas desejam receber dignamente o “Pão que faz viver eternamente” (Jo 6, 59), deve, a seu exemplo, desenrolar-se e apresentar-se imaculadas aos olhos do Cordeiro divino.
15.   O cálice com o véu.
Resta mencionar o cálice, por todos conhecido, de uso primordial entre todos os povos, e usado por Cristo na última ceia.
Dos vasos sagrados do templo de Jerusalém fazem menção as sagradas Escrituras. Também é notório o castigo fulminado aos profanadores dos vasos sagrados no banquete de Nabucodonosor.
Em que reverência se devem ter os cálices sagrados da Nova Lei, não é de difícil inteligência para os homens de fé: receptáculos são do Sangue divino, derramado em remissão dos pecados.
Ordena a Igreja que assim os cálices como os cibórios, em que se consagram e guardam as hóstias para distribuir aos fiéis, devem ser por dentro dourados. No mais, o material usado para o seu fabrico há de ser prata, ouro ou outro que não se oxide ou absorva líquidos.
Do mesmo material deve ser a patena, que se destina a receber a hóstia. Simboliza o sepulcro de Cristo.
16.   A Vela com castiçal.
Não se poderá passar em silêncio a vela na liturgia. Sua história e seu simbolismo são de real interesse.
Todas as velas que crepitam no altar ou em volta dele devem ser de cera que as abelhas fabricaram: de cera bruta, tal qual é fabricada pelas abelhas, quando houver missa de “Réquiem” e se realizarem as funções comemorativas da paixão e morte de Jesus Cristo durante a semana santa; - de cera refinada e branca para todas as demais funções litúrgicas.
Velas, portanto, feitas de qualquer outro material (estearina, sebo, etc.) são rigorosamente proibidas no altar, a não ser que devam servir para ornamentar e alumiar a igreja ou para fazer luz ao celebrante que reza a santa missa.
É multíplice o uso da vela nas cerimônias litúrgicas; mas limitemo-nos ao uso que dela se faz durante o santo sacrifício da missa.
O número de velas acessas no altar durante a santa missa varia, segundo varia a solenidade da mesma. Para uma missa simples devem ser duas. É permitida uma terceira, que se deverá acender ao “Sanctus” e apagar depois da “Communio”. Seu lugar será o lado da “Epístola”. Mas é uso que tende a desaparecer de todo. Para uma missa cantada ou solene, se deverão acender seis velas, três de cada lado do tabernáculo; mas, sendo missa pontifical, isto é, em que o bispo diocese pontifica pessoalmente, ajuntar-se-á mais uma sétima.
A Igreja simboliza desta forma os sete dons que o espírito santo dispensou, no dia da consagração episcopal, àquele que recebeu então a plenitude do sacerdócio com o poder de conferir os sete Sacramentos.
Observe-se ainda que nas Missas solenes é o diácono que canta o evangelho do dia, e que nesta ocasião os dois acólitos empunham castiçais com velas acesas e se postam à esquerda e à direita do subdiácono, que segura o missal.
Ora, antigamente se costumava, em algumas igrejas da França, carregar nestas ocasiões um número variado de círios, segundo a solenidade da festa.
Daqui o designarem-se as tais festas: festas de três, de cinco e de sete círios ou castiçais.
Se indagamos agora a significação da vela de cera, devemos dizer que simboliza Jesus Cristo, chamado a “Luz do mundo” (Jo 8, 12); a “Luz que dissipa as trevas” (Jo 1, 5)
A vela alumia, aquece; Jesus Cristo dissipa as trevas da nossa ignorância e acende em nossos corações o verdadeiro amor.
Esta luz eterna, que é o Verbo divino, encarnou-se um dia; e a vela recorda este mistério: “A cera, produzida pelas abelhas virgens, é o símbolo da carne de Cristo formada no seio da Virgem Maria; o pavio é o símbolo de sua alma; a chama, o de sua divindade”. É Santo Anselmo que assim se exprime.
Quando, pois, vemos consumir-se sobre os nossos altares esta cera, recordemos aquele de quem ela é símbolo. Saibamos contemplar nestes lampejos os raios daquele Jesus, cuja face resplandece nos céus como o sol em toda a sua pujança; re-animemos a nossa fé no que vem imolar-se sobre o altar da nossa terra, naquele Cordeiro sempre imolado da cidade celeste, de que é a Luz.
Esforcemo-nos por ser e por caminhar como os filhos da luz, correspondendo ao chamamento que nos dirige a vela acesa!

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Grandioso e imponente aparato, na verdade! E, entretanto, o que ficou dito não passa de remotíssima preparação do que fica por dizer. Mas, posto que vaga, é já sedutora a luz da aurora; assim, posto que pouco, foi dito muito, bastante para formar uma ideia do que virá de portas adentro deste majestoso templo da liturgia cristã.
O sacerdote ao pé do Altar!... O turbilhão de idéias e de sentimentos, se não o esmagam nessa hora, é só devido à graça do Alto que o sustenta.
Pobre mortal, atende, escuta, pondera e contempla a altura a que foste elevado!
“Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, exclama a Virgem, Mãe de Deus!
É um “Alter Christus” – Outro Cristo! – Não é ele, mas é Cristo que se revestiu dele. Cristo, o Supremo Sacerdote, o Sacerdote por excelência, não se designou de o eleger entre milhões para por ele exercer o sacerdócio, oferecer ao Pai Eterno o sacrifício da Nova Aliança.
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Prossigamos agora passo a passo na explanação das orações e cerimônias da santa missa!


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