COISAS DO CULTO DIVINO
1 A
Casa de Deus.
2 Na Casa de Deus.
2 Na Casa de Deus.
3 A
pia da água benta.
4 A
aspersão – Caldeirinha com o hissope.
5 O
cantochão ou gregoriano (cantoria).
6 O
incenso (naveta).
7 O
turíbulo.
8 O
altar (fixo, móvel e portátil).
9 O
Tabernáculo.
10. As
toalhas.
11. O
Corporal com a Bursa.
12. A
pala.
13. O
purificatório.
14. O
manustérgio.
15. O
cálice com o véu.
16. A
vela com Castiçal.
1. A
Casa de Deus.
Igreja é o
termo tomado da língua grega; significa assembleia, reunião de fiéis. É neste
sentido que se reza: “Creio na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana”.
Esta
denominação passou das assembleias aos lugares em que se realizavam tais
reuniões. É neste sentido que aqui tomamos a igreja: consideramos e
contemplamos a Casa de Deus, este edifício, em que se reúne o povo cristão, em
que se rende culto devido a Deus; pois que nela habita Deus.
Desde os
primeiros tempos de sua existência o cristianismo se empenhou seriamente em
como aparelharia uma morada digna do grande Deus, que se compraz em viver entre
homens.
Do começo usou
edifícios já existentes, moradas de particulares; estas íam sendo acomodadas às
necessidades do culto litúrgico; e porque, comumente, de gente rica, eram essas
moradas amplas, de forma que já no principio do século III possuía o
cristianismo edifícios esplêndidos e grandiosos, chamados “Domus Ecclesiae”,
casas de reunião, com átrios e amplos abrigos.
Bem cedo se
passou a cognominá-las basílicas, sendo que estas eram a parte principal dos
edifícios. Passada a era das perseguições, tornaram-se as basílicas monumentos
notáveis, em que a arte atingiu o apogeu nas múltiplas manifestações do
espírito humano, criando incomparáveis obras primas.
A ábside da
igreja é geralmente voltada para o oriente, donde veio Jesus Cristo e onde se
acha seu glorioso sepulcro. O cruzeiro, que corre norte-sul, simboliza a cruz,
em que Cristo deu a vida.
Os sinos das
igrejas, quanto se pôde averiguar, remontam ao século VI. Até esta época
usavam-se as trombetas ou as matracas para convocar o povo fiel.
A igreja é a
Casa de Deus e do cristão. Nela os fiéis adoram, agradecem, expiam e imploram de Deus o quanto lhes é
mister.
É ainda, e de
modo particular, a casa do Sacerdote. Nela o Sacerdote imola, perdoa, instrui,
e reza. Lugar, em verdade, santíssimo em que o Sacerdote implora e roga pelos
delitos e pecados do povo!
Mas todas as
prerrogativas e toda a dignidade da igreja provêm de ser ela a Casa de Deus. A
liturgia ou as cerimônias religiosas que se praticam, já na construção, já na
consagração ou dedicação das igrejas, interpretam admiravelmente estes
pensamentos.
Quando o bispo
ou seu delegado coloca a primeira pedra de uma igreja e impetra sobre ela as
bênçãos do Senhor, a liturgia relembra de modo especial que esta pedra é a
imagem de Jesus Cristo, a pedra angular e irremovível que sustenta o edifício
da grande Casa de Deus ou Família de Deus, a Igreja.
Chegado o
momento da consagração do novo templo, o bispo o faz ostentando toda a riqueza
e majestade dos ritos da liturgia, repassados de entusiasmo e alegria; é que se
consagra a morada para o Hóspede divino dos nossos tabernáculos.
Inicia-se a
consagração com longas purificações. Os muros externos são aspergidos com água
benta, contornados três vezes.
A igreja abre
suas portas ao Rei da glória, ao Deus forte e onipotente. O consagrante
purifica as paredes internas e externas três vezes, bem como o soalho do
templo, do norte ao sul e de leste a oeste. Introduzem-se então as relíquias
dos santos que hão de constituir a corte do Deus dos céus. Estas passam pela
porta que o bispo ungiu com o sagrado crisma; e o sepulcro do altar consagrado
as recebe para sempre.
Depois,
ungem-se doze colunas, caso as houver, aliás doze pontos das paredes com o óleo
santo, para simbolizar os doze apóstolos, sustentáculos da nossa fé.
Note-se porém,
que tal consagração só se faz em igrejas de pedras ou de tijolos – as de
madeira, ferro e outros metais só se podem benzer. Em nenhuma igreja se pode
celebrar se não tiver recebido antes a benção ou a consagração.
É desta forma
que a Casa de Deus fica exorcizada, purificada e consagrada. O príncipe das
trevas é dela expulso a fim de deixar a nova morada ao domínio do Príncipe da
Luz, Jesus Cristo. Jacob, sabendo que dormira em lugar consagrado a Deus,
exclamou tremendo: “Quão terrível é este lugar! Só pode ser a casa de Deus e a
porta do céu!” (Gen 28,17)
Terrível, sim,
mas só para os demônios e seus asseclas!
2. Na
casa de Deus.
Sacerdotes do
Senhor e fiéis, entremos neste lugar de oração, com a mente e o coração puros!
Aqui, melhor que alhures, recebe Deus as nossas homenagens e despacha as nossas
petições! Indo para avizinhar-se do arbusto em chama, ouve Moisés a voz do
Senhor, que lhe diz: “Descalça as sandálias, porque a terra que pisas é santa!”
(Êx 3, 5)
É o mesmo
Senhor que nos interpela dizendo: “Purificai o vosso coração; despi-vos do
vosso amor próprio; sacudi dos pés o pó do espírito mundano; não vos deixeis
atrair da curiosidade para os lugares profanos; entrai com temos e acatamento
no santuário do vosso Deus; recolhei-vos, enfim, à sua presença!”
3. A
pia da água benta.
A água benta.
A benção da água é uma cerimônia litúrgica antiquíssima, Tertuliano, no século
III, fala da água santificada por meio da invocação de Deus.
A benção mais
solene da água foi sempre a da fonte batismal, que se faz nas Vigílias da
Páscoa e Pentecoste.
Nos primeiros
séculos muitos do povo cristão levavam às suas casas um pouco de água benta,
antes que fosse misturada com o sacro crisma, a fim de aspergir as casas e os
campos. Generalizando-se este costume, tornou-se muito cedo tão grande o número
de pretendentes desta água que, não bastando a que fora benta nas duas preditas
solenidades, ordenou Carlos magno em seus Capitulares (Código de leis dividido em
capítulos) que se benzesse a água em todos os domingos do ano antes da Missa.
O rito da
benção da água está cheio de belos significados. O sacerdote toma sal e água,
que primeiro exorciza, e, misturando-os em seguida, os benze recitando algumas
orações.
Que significam
estas cerimônias e matérias?
A tarefa
própria do sal é preservar da corrupção; a da água purificar. O sacerdote os
exorciza, isto é, os livra de todo o contato diabólico, coisa que a Igreja faz
sempre que eleva alguma criatura ao uso santo. Mistura-os o sacerdote para que
esta água consagrada tenha em si a virtude que preserva da corrupção e a que
purifica. Lança-lhes a bênção ainda, com o sinal da cruz, que é a arma da
defesa contra os inimigos da salvação e a fonte de toda a graça. Reza, enfim,
implorando a virtude de poder, mediante esta água, expulsar o diabo das nossas
almas, dos nossos corpos e das nossas casas; curar as nossas doenças e atrair
sobre nós o socorro do espírito Santo.
Possui a água
benta o poder de apagar os pecados veniais de todos os que dela se servem com
fé em Jesus Cristo e com o arrependimento das próprias culpas.
“Lavai-me,
Senhor, sempre mais das minhas iniquidades e purificai-me dos meus pecados.”
(Sl 50, 4)
4. A
aspersão – caldeirinha com hissope.
A aspersão do
altar e da Casa de Deus que é prescrita para certas igrejas antes de começar a
Santa Missa Solene, e é louvavelmente praticada nas matrizes, oncorre belamente
para instruir o povo fiel acerca de grande e importante verdade: é necessário
que nós nos purifiquemos antes de assistir ao Santo sacrifício. São
numerosíssimas as purificações prescritas na Lei antiga, aos sacerdotes e ao
povo que se propõe a fazer suas oblações a Deus. E, todavia, quão inferiores
são os sacrifícios de Israel aos dos cristãos! A nação alguma foi dado ter a
divindade tão perto, como o nosso Deus nos é tão vizinho, exclama São Tomás.
Enquanto se
vai procedendo à aspersão, o coro canta a antífona: “asperges me, Domine,
hyssopo, et mundabor, lavabis me et super nivem dealbabor”. – Aspergi-me Senhor,
com o hissope, e serei purificado; lavai-me, senhor, e serei mais alvo que a
neve.
Asperge-se
primeiramente o altar, para afugentar o espírito das trevas que se introduz em
toda a parte, mesmo no santuário.
A seguir, o
sacerdote se asperge a si mesmo; pois, se a pureza há de ser o condão de todos,
é evidente que deve ser particularmente do sacerdote, que se propõe percorrer
as filas dos fiéis, levando-lhes as graças da purificação.
Segue a
aspersão dos fiéis. E, à medida que vai desempenhando estas cerimônias, recita
a meia voz, com os seus ministros, o “Miserere”, expressando os sentimentos de
penitência, que o animam a ele e aos fiéis, dispondo-se assim a receber os dons
divinos.
Durante o
tempo Pascal, ou melhor, desde a Páscoa a Pentecoste, o coro canta uma outra
antífona, acompanhada da primeira estrofe, não já do “Miserere” mas do Salmo
117: “Confitemini Domino”: - “Vidi aquam egredientem de templo a latare dextro,
aleluia! Et omnes ad quos pervenit aqua ista salvi facti sunt et dicent:
aleluia, aleluia, aleluia!” – Vi a água romper do lado direito do templo,
aleluia! E salvaram-se todos os que foram aspergidos com esta água; e todos
dirão: aleluia, aleluia, aleluia!
Mas por que
este canto durante o tempo pascal? É que
antigamente era nos dias de Páscoa e Pentecoste que se administrava o santo
sacramento do Batismo aos catecúmenos. A antífona relembra os frutos salutares
do sacramento da regeneração. Convida-nos a Igreja à alegria e ao recolhimento,
por tão grande benefício. Entende-se, por isso que estaria fora de lugar o
“Miserere”, que é próprio para dias de dor e penitência.
Se tivéssemos
maior fé, de certo estaríamos sempre em tempo na igreja a fim de participar das
graças da aspersão!
5. O
cantochão ou gregoriano.
O coro canta,
e canta um canto todo próprio da Santa Igreja, um canto sagrado pela elevação
divina dos pensamentos e melodias.
Longe de ser
inferior a qualquer outro, o Canto Gregoriano supera a todos pela expressão da
prece, que irrompe tão intensa quão simples da alma humana que procura a Deus.
O Canto
gregoriano merece ser aqui recordado por constituir uma nota característica na
santa Missa Solene, e nos demais ofícios divinos.
O nome de
“cantus planus” – cantochão – orignou-se da sua simplicidade; assim, foi
chamado a partir do século XIV, em oposição ao canto compassado e figurado que
entrou a lhe fazer concorrência.
Chama-se ainda
canto pausado por causa da sua cadência tranquila, pausada, determinada, fixa;
“cantus choralis” – canto coral – por ser destinado ao coro; canto litúrgico,
por ser reservado à liturgia; canto gregoriano, nome mais em uso, por ter sido
formado para a Igreja pelo grande papa São Gregório Magno (+604); canto grego
ou hebreu o chamaríamos também por ter estado muito em uso na antiga Grécia,
nas encenações das imortais tragédias de Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e nas
sinagogas judaicas.
Algo de sua
história.
A Igreja
respigou seus cantos do Oriente, isto é, dos gregos e dos hebreus. Foi São
Gregório que se incumbiu de corpo e alma em colecionar, aumentar, codificar o
repertório musical existente. O cantochão teve intensa repercussão e extensa
difusão principalmente no império dos Francos, no reinado de Pepino e Carlos
Magno. Fundaram-se desde o século IX em São Galo e em Metz célebres escolas de
cantochão, que ombreavam com as do “Laterano” em Roma. No século XII foi
fundada outra em Chartres, dirigida pelo célebre São Fulberto. Mas quem
facilitou a execução do cantochão foi o monge Guido de Arezzo no século XI.
O cantochão
foi ensinado e praticado nas aulas durante toda a Idade Média, com tal qual
interesse; mas, criada a polifonia no século XVI, perdeu ele a sua pureza; até
que o Padre Guéranger, de imorredoura memória, incitou seus monges, no século
passado (XIX), a que procedessem novamente a sábias e inteligentes pesquisas
para reintroduzir e reintegrar o cantochão na sua primitiva pureza. Conhecem
todos as “Melodias gregorianas segundo a tradição” do padre Pothier, publicadas
em 1880, verdadeira obra prima. A edição vaticana do canto eclesiástico,
publicada por São Pio X, em 1907, inspirada na de Solesmes de 1885, tornou-se
oficial na Igreja toda, pelo decreto de 7 de Agosto de 1907.
O canto
gregoriano é verdadeiramente oração, a oração cantada pela unidade cristã: uma
voz, uma melodia, uma alma, um coração, uma única prece, poderosa como o
concerto universal da Igreja inteira.
Quanta
gravidade, quanta paz, quanta majestade nesse canto! Que simplicidade de mios
para produzir, sem rebusca-lo, este grandioso efeito! Não há sentimento nobre
da lama coletiva do povo cristão que o canto gregoriano não exprima com
exatidão e calma divinas.
O “Motu
proprio” do papa São Pio X (22 de Novembro de 1903), que regula a natureza e as
condições do canto chão, não exclui, de forma alguma, qualquer outro gênero de
música religiosa. Louva antes o uso da polifonia clássica “à lá” Palestrina nas
grandes igrejas e catedrais. Não condena tão pouco o que a escola moderna pode
contribuir em beleza e dignidade para o harmonioso conjunto que torne o canto
verdadeira prece. Importa, porém, ter sempre ante os olhos esta regra geral que
expõe nestes termos: “Uma composição musical eclesiástica é tanto mais sagrada
e litúrgica, quanto mais se aproxima no movimento, na expressão e no gosto da
melodia gregoriana; é tanto mais indigna da Igreja, quanto mas se aparta deste
soberano modelo”.
Um sacerdote,
cura de uma paróquia, não poderia imaginar o progresso que obteria na vida
espiritual e religiosa de seus paroquianos, se, em suas igrejas, a oração
cantada com melodias gregorianas atingisse a perfeição que se exige em sua
execução. Há no cantochão um elemento essencial e importante para reformar
qualquer paróquia.
6. O
incenso – Naveta.
E enquanto os
ouvidos se embalam e a alma se eleva às regiões superiores com as suaves
melodias do cantochão, turvam os olhos e o olfato nuvens espiraladas que
ascendem do turíbulo ao alto e enchem a igreja toda.
É o incenso
cuja origem, símbolo e uso despertam certo interesse, como coisa inseparável em
todas as solenes funções religiosas.
O incenso é
uma substancia resinosa, extraída de uma planta que cresce na Palestina e na
Arábia.
A língua
latina tem duas palavras para indicar essa substancia: a palavra “thus”, de um
verbo grego, que significa perfumar, e a palavra “incensum”, de um verbo
latino, que quer dizer queimar, donde o termo incenso. Podemos reunir os dois
significados e dizer que o incenso é um perfume destinado a se consumir em
honra de Deus.
O uso do
incenso era conhecido entre os Gregos e Romanos, que o ofereciam aos seus
deuses. Em sinal de honra, era queimado também diante de personagens ilustres.
Aos poucos foi usado outrossim para incensar os bispos, depois de pessoas em
geral, por fim, os próprios objetos.
7. O
turíbulo.
O turíbulo é
um instrumento litúrgico, em que crepita o fogo que devorará o incenso, e donde
se evolará em nuvens aromáticas. Em sua origem era o turíbulo um enorme
perfumador sem correntes e repleto de carvão aceso. Um mosaico de São Vital de
Ravena prova que o turíbulo já era suspenso por correntes no século VI. Era o
turíbulo carregado pelos acólitos e levado “ad nares hominum” – aos narizes dos
homens – que estendiam para ele as mãos e recolhiam a si o fumo suave do
incenso. Há testemunhos que depõem ter sido o incenso usado, desde o século II,
para perfumar as igrejas; e só mais tarde se passou a usa-lo para incensar as
pessoas e as cosas. A “Peregrinatio Sylvias ad loca santa” narra que na manhã
do domingo, ao canto do galo, quando o Bispo e os seus ministrantes entraram no
santuário do “Atanásis” (Ressurreição) já alumiado por numerosíssimas lâmpadas,
após a oração e a salmodia, e antes que o Bispo lesse o Evangelho ao povo, eram
carregados turíbulos; e a “Basílica da Ressurreição ficou cheia de um suave
aroma”.
O uso do
incenso na liturgia é ainda hoje muito frequente. É usado quase em todas as
cerimônias litúrgicas: na Missa Solene; durante os ofícios das Laudes e das
Vésperas; nas bênçãos do Santíssimo; e, entre outras, nas grandes bênçãos
litúrgicas do ano, das velas, da Purificação, das cinzas, e das palmas.
Falar-se-á em
seu lugar da incensação do altar durante a missa solene.
Também o
incenso tem o seu simbolismo. Este aroma, que a Igreja usa em todas as
solenidades, deve recordar-vos continuamente que devemos ter o bom cheiro de
Jesus Cristo, e rescender em todo lugar o conhecimento e o amor de nosso Deus.
Ascendamos
ainda mais alto para achar um belíssimo significado do incenso! Como o
discípulo predileto, em sua visão de Patmos, contemplamos no céu os turíbulos
de ouro, movidos pelos Anjos, junto ao trono do Cordeiro. Estes turíbulos
estavam cheios de perfumes, narra o vidente; e revela-nos também que eles não
eram outra coisa que as orações dos Santos. O incenso, portanto, segundo São
João, simboliza também a oração; e quando se eleva ao céu, relembra-nos como há
de ser a nossa prece; isto é, pura, ardente, aromatizante com o perfume das
nossas virtudes.
8. O
altar (fixo, móvel e portátil)
Fixam-se agora
os olhares mais intensa e demoradamente no altar. Os maiores e mais vivos
sentimentos despertam à sua vista.
Que é o altar?
Quantas espécies há? Que representa?
O altar
significa coisa alta, “alta res”; e é uma tábua soerguida um tanto acima do
solo, em que se oferece o sacrifício.
A igreja devia
ter o seu altar, altar sagrado por excelência, porque a vítima que nele se
imola é um Deus.
Há duas
espécies de altares: o altar fixo ou imóvel e o altar portátil ou móvel. O
primeiro consta de uma grande laje de pedra (geralmente de mármore) que
descansa sobre um bloco ou colunatas da mesma matéria, e forma um todo
consagrado e fixo soalho. O outro não passa de uma simples laje de pedra, assaz
larga para pousarem sobre ela o cálice e a hóstia; e é engastada em uma lousa
de pedra ou madeira. A pedra ou altar móvel consagrado pode ser transportado de
um lugar para outro sem prejuízo da consagração, o que não se dá com o altar
imóvel.
Há nas igrejas
geralmente mais de um altar. O altar-mor, quase sempre fixo, é o principal; é o
lugar em que se efetuam de preferências as sagradas cerimônias.
Os altares
laterais não eram conhecidos nos primeiros séculos; principiaram a sê-lo,
quando foi introduzido o costume de rezar mais missas simultaneamente em uma e
mesma igreja.
Seja qual for
o material com que se constrói o complexo de peças que compõem o altar, nele
não poderá faltar nunca a lousa de pedra consagrada sobre a qual possam caber
pelo menos a hóstia e o cálice.
Sobre o altar
está colocada a cruz com a imagem de Jesus Cristo Crucificado, a fim de
recordar ao celebrante e aos fiéis a paixão de Jesus Cristo, que o sacrifício
renova misticamente.
Não podem
faltar duas velas acesas, uma à direita, outra à esquerda do Crucifixo, em
sinal da honra e veneração que se deve tributar à adorável vítima.
São
regularmente três os degraus no altar-mor, e simbolizam as virtudes teologais
da fé, esperança e caridade que conduzem a Jesus Cristo.
De fato, o
altar representa Jesus Cristo; e disso adverte o bispo aos subdiáconos no dia
da sua ordenação. O rito da consagração dos altares é comovente: são mais de duzentos sinais da cruz que se
fazem sobre o altar durante as cerimônias de sua consagração, o que bem deve
lembrar o pensamento predominante do sacrifício da cruz.
O altar é de
pedra, ao menos a parte que deve receber a hóstia e o cálice; ora, a pedra é
uma figura de Jesus Cristo, “pedra angular” (Ef 2, 20) da Igreja, como chama
São Paulo. Cinco cruzes estão gravadas nesta pedra e figuram as cinco chagas do
Salvador.
É ela
purificada por numerosas bênçãos, porquanto simboliza aquele Pontífice eterno,
santo, inocente, imaculado, de quem fala o Apóstolo.
Passa ainda
por diversas unções executadas com o óleo dos Catecúmenos e do Sagrado Crisma.
Constitui emblema daquele de quem está escrito: “O espírito do Senhor descasa
sobre mim; por isso ele me ungiu” (Lc 4 ,18)
No sepulcro
desta pedra jazem algumas relíquias de Santos, devendo ser, ao menos uma delas,
de um mártir, para assim relembrar o piedoso costume dos primeiros séculos em
que se celebravam os santos mistérios sobre o sepulcro dos mártires.
O altar
representa, portanto, Jesus Cristo; é a figura de Deus que reside no meio do
seu povo.
9. O
tabernáculo.
Releva fixar a
atenção no tabernáculo, que ocupa o centro do altar e é encimado de uma
cupulazinha ou baldaquim. Encontra-se quase so no altar-mor. Sua finalidade,
desde os tempos mais remotos, é guardar as sagradas hóstias e partículas das
mesmas. O baldaquim é absolutamente necessário para que se possa expor o
Santíssimo no ostensório.
O tabernáculo
deve ser no interior revestido ou de ouro ou de seda branca, e no exterior, ao
menos a parte da frente, de um véu chamado “conopéu’.
Sobre o
tabernáculo não deve haver nada, afora o crucifixo. Assim o tabernáculo como o
baldaquim devem ser de obra prima, tanto quanto possível. Em alguns lugares são
riquíssimos e de execução artística. Neste sentido a Igreja não poupou nunca
dinheiro ou tempo.
O altar há de
ser exornado de forma que mereça, tanto quanto a matéria o possa, servir de
morada de Deus três vezes santo.
Concorrem de
modo especial a santificar o altar as relíquias dos Santos que, em arcas
preciosas, ficam expostas sobre ele. É este costume muito antigo e muito digno
e justo, porque digno e justo é que no momento da sacrifício do augusto e
soberano Senhor, Cabeça dos fiéis, os Santos, como membros desse corpo, estejam
presentes e se associem à glória do supremo ato da Religião Cristã.
Ordena, porém,
a Igreja que, mesmo assim, se devem afastar do altar todas as relíquias e
relicários durante a santa missa, que se celebra no tempo do advento e da
quaresma, bem como durante o ofício de réquiem e a exposição do Santíssimo
Sacramento.
As
toalhas.
O que prende a
atenção sobre o altar são as três toalhas de linho ou cânhamo alvíssimo Uma
dessas se estende por sobre a ara sagrada de forma a encobrir quase
inteiramente o altar dos lados e da frente. Duas outras que se ocultam aos
olhares cobrem a mesa do altar e devem cobrir ao menos a pedra sagrada. O
sacerdote que celebra sem estas três toalhas peca gravemente, como também se
admite outras de pano que não sejam linho ou cânhamo. Sua finalidade é óbvia:
pode suceder que se entorne o santíssimo Sangue e então uma única toalha não
bastaria para recolher. O uso da toalha remonta ao menos ao século IV: isto se
pode provar historicamente.
O
corporal com a Bursa.
Quero aqui
antecipar a referência a outros panos, que, por rigor da ordem proposta neste
trabalho, deveriam ser mencionados quando ocorressem no ato da celebração da
missa. Faço-o para não distrair então a atenção, que reclamam coisas mais
simples.
Assim, pois,
importa saber que, afora as toalhas, que cobrem o altar, são usados, durante o
santo sacrifício da Missa, o corporal, a pala, o purificatório e o manutérgio.
O corporal é
um pano de linho do formato de grande lenço, que o sacerdote estende sobre o
altar e em que se faz a consagração das sagradas espécies. É com muita razão
que assim se chama: devido ao seu contato imediato com o adorável Corpo de
Cristo. Que antigamente era ele muito mais amplo, é evidente: nele se
depositavam os pães e o vinho dos fiéis para serem consagrados. Daqui a opinião
de que nos primeiros tempos se prestava o corporal para o mesmo fim com a
toalha; ou melhor: que o corporal e a toalha fossem um e a mesma coisa. A isto
nos induz, outrossim, o fato de que então se cobria a mesa do altar para o
sacrifício e era descoberta logo depois de acabado.
E quem não vê
reproduzido este antigo costume nas atuais cerimônias, com que se desnudam os
altares nas quintas-feiras santas e se cobrem com a toalha no dia seguinte?
12. A
pala.
A pala tem a
forma quadrada, e serve para cobrir o cálice. Primitivamente era uma única peça
com o corporal, cujas extremidades, dobradas por sobre o cálice se prestavam
para cobri-lo. Tendo-se reduzido as dimensões do corporal, foi mister achar
meio com que se cobrisse o cálice; daí a origem da pala.
Segundo as
instruções da sagrada Congregação dos Ritos, a parte da pala, que toca
diretamente o cálice, deve ser de linho ou cânhamo; tolera-se na parte superior
a seda e os recamos; mas é proibida a cor preta, mesmo qualquer emblema de
morte.
13. O
purificatório.
O
purificatório é um pano, de proporções de lençozinho, que serve para enxugar o
cálice. Os antigos não falam dele; só é conhecido que os monges de Cluny
abstergiam o cálice com uma toalha dependurada junto ao altar, do lado da
epístola; mas com o andar dos tempos foi substituída por um pano, que se tornou
um acessório indispensável do cálice.
14. O
manutérgio.
O manutérgio é
o paninho que o público vê facilmente, quando dele usa o celebrante para
enxugar os dedos depois de lavados com a água, que o acólito sobre eles entorna
na parte da missa, que se chama “Lavabo”.
Assim as
toalhas, como o corporal e a pala, devem ser bentas pelo próprio bispo ou por
um sacerdote para isso delegado. Para o purificatório a benção é facultativa.
Para o manutérgio não há benção.
Assim como a
nenhum leigo é permitido tocar, sem necessidade ou sem licença especial, o
corporal, a pala e o purificatório, depois de terem sido usados na santa missa,
muito menos os poderão lavar antes que o sacerdote ou o diácono e subdiácono os
haja lavado primeiro.
Estas peças tem
também seu simbolismo e sobretudo por serem de linho: simbolizam os lenços de
linho, em que José de Arimatéia envolveu o Corpo do Senhor; e exercem realmente
em cada santa missa a mesma função de receber em si o Corpo adorável de Jesus
imolado sobre os nossos altares.
A alvura
desses panos nos ensina que, se as nossas almas desejam receber dignamente o
“Pão que faz viver eternamente” (Jo 6, 59), deve, a seu exemplo, desenrolar-se
e apresentar-se imaculadas aos olhos do Cordeiro divino.
15. O
cálice com o véu.
Resta
mencionar o cálice, por todos conhecido, de uso primordial entre todos os
povos, e usado por Cristo na última ceia.
Dos vasos
sagrados do templo de Jerusalém fazem menção as sagradas Escrituras. Também é
notório o castigo fulminado aos profanadores dos vasos sagrados no banquete de
Nabucodonosor.
Em que
reverência se devem ter os cálices sagrados da Nova Lei, não é de difícil
inteligência para os homens de fé: receptáculos são do Sangue divino, derramado
em remissão dos pecados.
Ordena a
Igreja que assim os cálices como os cibórios, em que se consagram e guardam as
hóstias para distribuir aos fiéis, devem ser por dentro dourados. No mais, o
material usado para o seu fabrico há de ser prata, ouro ou outro que não se
oxide ou absorva líquidos.
Do mesmo material
deve ser a patena, que se destina a receber a hóstia. Simboliza o sepulcro de
Cristo.
16. A
Vela com castiçal.
Não se poderá
passar em silêncio a vela na liturgia. Sua história e seu simbolismo são de
real interesse.
Todas as velas
que crepitam no altar ou em volta dele devem ser de cera que as abelhas
fabricaram: de cera bruta, tal qual é fabricada pelas abelhas, quando houver
missa de “Réquiem” e se realizarem as funções comemorativas da paixão e morte
de Jesus Cristo durante a semana santa; - de cera refinada e branca para todas
as demais funções litúrgicas.
Velas,
portanto, feitas de qualquer outro material (estearina, sebo, etc.) são
rigorosamente proibidas no altar, a não ser que devam servir para ornamentar e
alumiar a igreja ou para fazer luz ao celebrante que reza a santa missa.
É multíplice o
uso da vela nas cerimônias litúrgicas; mas limitemo-nos ao uso que dela se faz
durante o santo sacrifício da missa.
O número de
velas acessas no altar durante a santa missa varia, segundo varia a solenidade
da mesma. Para uma missa simples devem ser duas. É permitida uma terceira, que
se deverá acender ao “Sanctus” e apagar depois da “Communio”. Seu lugar será o
lado da “Epístola”. Mas é uso que tende a desaparecer de todo. Para uma missa
cantada ou solene, se deverão acender seis velas, três de cada lado do
tabernáculo; mas, sendo missa pontifical, isto é, em que o bispo diocese
pontifica pessoalmente, ajuntar-se-á mais uma sétima.
A Igreja
simboliza desta forma os sete dons que o espírito santo dispensou, no dia da
consagração episcopal, àquele que recebeu então a plenitude do sacerdócio com o
poder de conferir os sete Sacramentos.
Observe-se
ainda que nas Missas solenes é o diácono que canta o evangelho do dia, e que
nesta ocasião os dois acólitos empunham castiçais com velas acesas e se postam
à esquerda e à direita do subdiácono, que segura o missal.
Ora,
antigamente se costumava, em algumas igrejas da França, carregar nestas
ocasiões um número variado de círios, segundo a solenidade da festa.
Daqui o designarem-se
as tais festas: festas de três, de cinco e de sete círios ou castiçais.
Se indagamos
agora a significação da vela de cera, devemos dizer que simboliza Jesus Cristo,
chamado a “Luz do mundo” (Jo 8, 12); a “Luz que dissipa as trevas” (Jo 1, 5)
A vela alumia,
aquece; Jesus Cristo dissipa as trevas da nossa ignorância e acende em nossos
corações o verdadeiro amor.
Esta luz
eterna, que é o Verbo divino, encarnou-se um dia; e a vela recorda este
mistério: “A cera, produzida pelas abelhas virgens, é o símbolo da carne de
Cristo formada no seio da Virgem Maria; o pavio é o símbolo de sua alma; a
chama, o de sua divindade”. É Santo Anselmo que assim se exprime.
Quando, pois,
vemos consumir-se sobre os nossos altares esta cera, recordemos aquele de quem ela
é símbolo. Saibamos contemplar nestes lampejos os raios daquele Jesus, cuja
face resplandece nos céus como o sol em toda a sua pujança; re-animemos a nossa
fé no que vem imolar-se sobre o altar da nossa terra, naquele Cordeiro sempre
imolado da cidade celeste, de que é a Luz.
Esforcemo-nos
por ser e por caminhar como os filhos da luz, correspondendo ao chamamento que
nos dirige a vela acesa!
* * *
Grandioso e
imponente aparato, na verdade! E, entretanto, o que ficou dito não passa de
remotíssima preparação do que fica por dizer. Mas, posto que vaga, é já
sedutora a luz da aurora; assim, posto que pouco, foi dito muito, bastante para
formar uma ideia do que virá de portas adentro deste majestoso templo da
liturgia cristã.
O sacerdote ao
pé do Altar!... O turbilhão de idéias e de sentimentos, se não o esmagam nessa
hora, é só devido à graça do Alto que o sustenta.
Pobre mortal,
atende, escuta, pondera e contempla a altura a que foste elevado!
“Eis a escrava
do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, exclama a Virgem, Mãe de
Deus!
É um “Alter
Christus” – Outro Cristo! – Não é ele, mas é Cristo que se revestiu dele.
Cristo, o Supremo Sacerdote, o Sacerdote por excelência, não se designou de o
eleger entre milhões para por ele exercer o sacerdócio, oferecer ao Pai Eterno
o sacrifício da Nova Aliança.
* * *
Prossigamos
agora passo a passo na explanação das orações e cerimônias da santa missa!
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