PARAMENTANDO-SE
1.
O amicto.
2.
A alva.
3.
O cíngulo.
4.
O manípulo;
5.
A estola.
6.
A casula.
7.
A dalmática.
O sacerdote é
no altar o substituto e representante de Jesus Cristo. Para apresentar-se
dignamente diante de Deus Pai, e da Corte Celeste, deve trazer na alma o
ornamento das virtudes daquele que representa.
O sacerdote
deverá apresentar-se diante do Pai celeste como um outro Jacó diante de Isaac,
vestido das vestes de Esaú, o primogênito. Exultará Deus por aquela fragrância
que se desprenderá do coração de seu Filho primogênito e unigênito, oculta
debaixo das vestes desde sacerdote. Manda a Igreja, qual outra Rebeca, vestir o
sacerdote de vestes não suas, como para atrair sobre si, por esta piedosa
fraude, a complacência divina, e tornar o sacrifício incruento da santa Missa
aceito a Deus Pai.
Quão pequeno e
ao mesmo tempo quão grande é o sacerdote; nada em si, tudo em Jesus! Nisto
pensando, vai se paramentando; e a cada paramento que enverga novas ideias lhe
ocorrem. Ouçamo-lo!
1.
O amicto.
A primeira
peça, que o sacerdote veste, é o amicto. Beija-o; lança-o sobre aos ombros, descansa-o
por um momento na cabeça; fixa-o em volta do pescoço; deixa-lhe as extremidades
caírem pelas espáduas, e segura-as em seguida com duas longas fitas, em volta
dos rins, enquanto diz: “Ponde-me na cabeça, Senhor, o elmo da salvação para
que repila os assaltos do demônio”.
* * *
O amicto é de
origem muito antiga, comum aos clérigos e leigos. Estes, porém, o abandonaram,
e Roma o adotou. Era então o amicto desdobrado não pr baixo, mas por cima da
alva, como peça litúrgica, e prescreve seu uso a partir do século XI. Ainda o
prescreve o rito ambrosiano.
Cinge-se com o
amicto o pescoço, para significar segundo Amalário, a moderação que se deve ter
no uso da voz, visto que esta se localiza na garganta: “Collum undique
cingimos, quia vox in collo est”. Esta é de fato a idéia que expressa ainda
hoje o bispo, quando, na ordenação do subdiácono, diz, impondo-lhe o amicto:
“Recebe o amicto, símbolo da moderação na voz”.
Se
perguntarmos por que descansa o amicto por um momento na cabeça, respondemos
que foi uso já antes do século XI cobrir primeiro a cabeça, da qual se tirava
só depois de se tem envergado todos os mais paramentos, que o amicto deveria
cobrir. Posto que fosse isto de direito exclusivo dos papas a partir do século
XII até XVI, estava em uso também entre os simples sacerdotes de alguns
lugares, que se cobriam cm ele a cabeça durante certa parte da Missa. Deste uso
originou-se o sentido místico dado ao amicto. Chamaram-no de – “galea salutis”
– elmo da salvação.
Belo sentido
místico tem ele! Bem necessário é ao sacerdote este elmo da salvação. Agarre-se
ele a este símbolo da verdadeira esperança cristã!
Elmo de aço,
capacete inamolgável, quanto és necessário ao ministro e batalhador da causa de
Deus! É justamente contra o sacerdote que o demônio arma e assesta de
preferência sua formidável bateria para arrancar-lhe da alma a paz, e do
coração a coragem. Protege-o, ó – “galea salutis”.
2.
A alva.
Vestido o
amicto, enverga a alva, veste talar qual fora prescrita por Deus aos sacerdotes
descendentes de Aarão. É geralmente tecida de linho. Comforma-se assim melhor
com as vestes que São João viu em sua visão e descreve: “E foi-lhe dado
vestir-se de finíssimo linho, resplandecente e branco” (Apoc 19, 8). A alva
representa, no seu lavor como na sua brancura, a justiça e a inocência
conquistadas mediante as tribulações padecidas em união com Cristo: “E este
linho fino são as virtudes dos Santos” (Apoc 19, 8). “Esses lavaram seus
vestidos e os embranqueceram no sangue do Cordeiro” (Apoc 7, 14).
Os ministros
da Igreja primitiva andavam sempre vestidos com essa alva, também fora das
funções litúrgicas. Os neófitos e os néo-batizados vestiam-se na oitava da
pascoela e a depunham no sábado seguinte, que por isso chamava “in albis”,
donde vem o nome da veste: “alva”.
* * *
Veste
veneranda, o sacerdote te compreende! É com júbilo que reza, vestindo-te:
“Lavai-me, Senhor, e purificai-me o coração, para que, lavado no sangue do
Cordeiro, mereça o gozo das eternas alegrias”.
É o emblema da
inocência; símbolo do homem vencedor das paixões desregradas, digno, em sua
inocência, que se apresente ante a pureza infinita!
Diz o Senhor:
“Quem for vencedor, será vestido de alvas vestes; não serei eu quem lhe apagará
o nome do Livro da vida; confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante de seus
anjos”.
* * *
3. O cíngulo.
Pega depois o
cíngulo, corda de certo comprimento que serve para estreitar a alva em volta
dos flancos assim que a sua amplitude não impeça no desempenho das suas funções
religiosas.
O cíngulo é de
origem muito antiga, e com ele cingiam, então, todos os que gozavam ou queriam
gozar do bom nome e da boa reputação, pois simbolizava o recato, a continência,
a probidade; é por isso prescrito já no primeiro “Ordo Romanus’, como peça que
deve fazer parte das vestes eclesiásticas.
E cingindo-se
os rins com este cíngulo, reza: “Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza, e
extingui em mim as chamas da volúpia, para que reine em mim a virtude da
continência e da castidade”.
Cíngulo, cinge
os rins dos sacerdotes, para que tenham sempre presente a necessidade da
mortificação, que lhes assegura e garante a inocência da vida! Sem se
mortificar não são e não podem ser Ministros do Crucificado, porque quem quer
ser de Cristo crucifica a carne com seus vícios e concupiscências.
3.
O manípulo.
Enfia, ao depois, no braço esquerdo o
manípulo. Sua origem, além de remotíssima, é interessante. Usavam-no os
Cônsules Romanos por ocasião da inauguração dos jogos no circo. Depois que o
cristianismo entrou em Roma, e criou nela raízes, as estátuas e monumentos
cristãos, que simbolizavam o Salvador e a Santíssima Virgem, eram distinguidas
das mais pelo manípulo. Logo vê-se nele um sinal de respeito todo peculiar
prestado a Jesus e a Maria.
As personagens
distintas, em ocasiões de darem ou receberem presentes, levavam o manípulo
ricamente trabalhado. As estátuas ou imagens destas personagens são
representadas com o manípulo sobre o braço esquerdo. No primeiro “Ordo
Romanus”, é prescrito como insígnia de autoridade: tem-no o subdiácono
desdobrado sobre o braço direito na ocasião de dirigir a “Schola Cantorum”.
De Moléon
(1718) aventou a ideia de que i manípulo teria servido de lenço para enxugar o
suor: daí o nome “sudarium”. Dele se serviam os rapazes que, na abadia de
Cluni, cantavam no coro; como também durante o mesmo ofício, dele usavam os
rapazes de São João de Lyon. Estes seguravam-no entre os dedos da mão esquerda.
Isto parece
sugerir a ideia de que a finalidade do manípulo fora sempre qual é hoje a dos
lenços. Mas, por serem estes casos esporádicos, parece ser mais aceitável a
ideias dos manípulos, em sua origem, eram verdadeiros distintivos de nobreza e
autoridade, sendo que consta, com toda a certeza, que eram levados pelos
clérigos “in sacris”, e só durante a Missa, desde o século X.
Entretanto,
assim uma como outra ideia pode ser interpretada pela oração que a Igreja põe
na boca do sacerdote ao introduzir-lhe no braço o manípulo: “Possa eu tornar-me
digno, Senhor, de carregar o manípulo das lágrimas e da dor, para que receba na
glória o prêmio dde minhas fadigas”.
* * *
Manípulo, em
ti vêem os sacerdotes um símbolo do zelo que os deve assinalar. Relembras-lhe,
sempre que se encaminham ao altar, a resolução tomada no dia de sua ordenação,
a de se entregarem e imolarem em prol das almas! Relembra-lhes a autoridade e o
poder, que lhes foram conferidos, i. é, de renovar o sacrifício do Calvário.
Este reclama deles, todas as manhãs, a abnegação do zelo sacerdotal.
5. A Estola.
Depois do
manípulo vem a vez da de pendurar ao pescoço, peito abaixo, e cruzar sobre o
mesmo a estola. Interessante a sua origem! As pessoas de posição e abastadas
usavam originariamente um rico tecido de linho pendente do pescoço para com ele
enxugar o rosto. Deste pano, chamado orarium (do latim, os= boca, rosto),
usavam mais tarde os que falavam em público; por isso tornou-se ele, aos
poucos, nas igrejas, o ornamento dos bispos, dos padres e dos diáconos; daí
quererem alguns derivar a origem do “orarium”, de “orator” = pregador; daí o
costume de subirem ainda hoje, os pregadores ao púlpito com a estola.
É certo que
primitivamente caía a estola direito por trás e pela frente. Passou-se depois a
cruzá-la sobre o peito e até a firmá-la cruzada debaixo do braço direito.
A Igreja
conserva ainda hoje três modos de levar a estola. O bispo observa primeiro, o
sacerdote o segundo e o diácono o terceiro.
* * *
Pelo que
representas e simbolizas, ó estola, te vestem os sacerdotes com amor, enquanto
formulam a súplica: “Restituí-me, Senhor, a estola da imortalidade, que perdi
com a prevaricação do primeiro pai; e, posto que indigno de me aproximar do
vosso santo ministério, mereça gozar das eternas delícias”. És o símbolo da
imortalidade! Recordas a glória e a sublimidade dos Mistérios sagrados e
divinos que transportam os sacerdotes à glória da majestade de Deus, que os
levam ao Sacerdote Eterno, Jesus Cristo!
Mantém-nos,
estola, durante o tempo da celebração, nestas alturas, sem o que, não poderemos
participar condignamente do sacrifício eterno, do único e imortal Sacerdote,
segundo a ordem de Melquisedec!
6. A Casula.
Vem a vez de
envergar a casula (casa pequena, chamada pelos gregos de “planeta”) peça não
fixa, mas móvel. A casula primitiva assemelhava-se bastante a uma pequena casa,
em que parecia estar encerrado o sacerdote. A sua forma redonda permitia o giro
fácil em redor do pescoço.
É a antiga
“paenula” derivado de “pannus”, vestimenta de uso universal, vestida em toda
parte e por todos.
Pelo fim do
século IV tornou-se mais o hábito próprio e cotidiano dos senadores; e aos
poucos passou a ser veste exclusiva dos sacerdotes ou ministros do culto
divino.
Santo Ambrósio
é representado em um mosaico do século V vestido da “paenula”, mosaico que se
encontra na capela de São Sátiro em Milão.
Para ter
livres as mãos, o sacerdote recolhia a casula dos braços aos ombros; na
elevação o diácono soerguia-a por detrás, para que o celebrante fosse mais
desimpedido em seus movimentos, ato este, ainda hoje em uso, posto que de
nenhuma finalidade prática.
Desde o século
XV foi-se-lhe cortando parte do que cobria os braços, assim que veio tomando
imperceptivelmente a forma atual, que muito pouco se assemelha àquela
primitiva. Só a “gótica” relembra mais de perto o que fora a casula primitiva.
Os diáconos e
subdiáconos, hoje como então, só podem envergar a casula em determinadas
missas, por exemplo, nas do advento e a quaresma.
Como outrora,
os diáconos e subdiáconos, quando em serviços mais direto entre o povo, assim
hoje o padre que quer, tira a casula quando prega, para que, segundo o dito
antigo: “succintus et expeditus sine multa veste”, possa fazer seus movimentos.
Seja dito de
passagem que também os acólitos vestiam antigamente a casula. Com estes
conhecimentos, os sacerdotes compreendiam melhor a significação da prece que a
Igreja aconselha rezar, enquanto envergam a casula: “Senhor, Vós que dissestes:
- O meu jugo é suave e o meu fardo leve, - fazei com que eu possa carregar a
fim de obter a vossa graça!”
* * *
Casula, os
sacerdotes te invocam como o símbolo de caridade, emblema de amor de Deus e do próximo!
Imolando eles a Vítima divina, esforçar-se-ão no futuro, mais do que no
passado, por tornarem-se santos, a fim de tornar santos os outros.
A santidade é
o fruto da caridade; mas a caridade é cumprimento dos preceitos divinos; e
estes são o jugo e o fardo que se propõem carregar, quando envergam a casula!
Paramentam-se
agora o diácono, o subdiácono e os acólitos.
O diácono e o
subdiácono são ministros, servos, ajudantes que servem o sacerdote no altar.
O diaconato e
o subdiaconato são as duas Ordens chamadas Maiores para se distinguirem das
Menores, que são os ostiariato, leitorato, exorcistato e acolitato.
O diaconato
foi considerado desde o princípio como ordem maior, não assim o subdiaconato,
que recebeu foros de ordem maior só no século XIII, debaixo do imortal
Inocêncio III. São, porém, ambas, ordens muito antigas; delas falam os Padres e
lhes exalçam a dignidade, sem todavia especificá-las pelo seu valor intrínseco.
O ofício
próprio do diácono é cantar o santo Evangelho e servir o sacerdote no altar.
Antigamente, quando os sacerdotes eram pouco numerosos, incumbiam-se os
diáconos de outras funções mais importantes, hoje reservados ao sacerdote: eles
batizavam, distribuíam a santa comunhão, o que se lhes concede ainda hoje em
certos casos raros.
O subdiácono
canta a Epístola e serve diretamente ao diácono, indiretamente ao sacerdote, no
que se refere ao santo Sacrifício. São estes dois ministros do Sacerdote, em
virtude do seu ofício, revestidos de dignidade extraordinária. É a eles que se
permite chegar mais perto do Santo dos Santos; são os que representam no altar
os fiéis e respondem em nome deles.
* * *
Como disse,
paramentam-se: o diácono leva manípulo, mas só durante a santa Missa e no
ofício da sexta-feira santa e sábado santo; põe estola, que, ao invés do
sacerdote, cruza, não sobre o peito, mas sob o braço direito. Em vez de casula
enverga dalmática. Dos mesmos paramentos, menos a estola, se veste o
subdiácono.
7. A
dalmática.
A dalmática é,
com poucas variantes, a tunicela dos antigos romanos, veste comprida, de
mangas, antes estreitas que largas, que se sobrepunha à alva; mas não logrou
generalizar-se na liturgia.
A dalmática,
originária da Dalmácia (donde lhe vem o nome) entrou em uso litúrgico já
no século II do cristianismo. Era mais
comprida que a tunicela e muito ampla. As mangas mais largas, porém fechadas,
como as da tunicela. Mais tarde se abriram as mangas da dalmática e da
tunicela. Eram mangas curtas; pois não ultrapassavam os cotovelos.
Vestia-se
então a dalmática por sobre a tunicela, como hoje ainda o faz o bispo ao
celebrar pontificalmente. Até os imperadores envergavam este hábito. Como
paramento sagrado, a dalmática foi primeiramente reservada aos Bispos. São
Silvestre, no século IV, a concedeu também aos diáconos; e não tardou que se
tornasse paramento exclusivo deles. Chama-se na liturgia a veste da justiça –
“dalmática justitiae”.
8.
A sobrepeliz.
Estes rapazes,
vestidos de batina e sobrepeliz, são os ajudantes da Missa ou acólitos. A
dignidade e a honra destes se colhem do ofício que exercem.
Os acólitos
são anjos, se o sacerdote é Cristo. Devem servir ao celebrante, como os anjos
servem a Deus.
Os acólitos
são indispensáveis na celebração da santa Missa. O sacerdote que celebre sem
ajudante, fora do caso de séria necessidade, peca gravemente.
9.
A capa de asperges.
O acólito
deverá ser clérigo. Em sua origem o acolitante era o diácono. Só por falta de
diáconos é que passou a qualquer clérigo este ofício e na falta deste a
qualquer leigo.
Está claro que
só uma pessoa do sexo masculino é permitido ajudar o celebrante no altar.
Uma senhora,
em caso de urgente necessidade, poderá, quando muito, responder a celebrante as
orações, mas atrás da mesa da comunhão; não lhe sendo nunca permitido servir ao
celebrante no altar. É prescrito um acólito nas missas simples, dois nas
solenes.
Homens de
pouca fé são os que se negam a ajudar à santa Missa.
10.
O barrete.
O barrete
estava em uso já no século XII; sua forma atual é do século XVI.
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