segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O MISTERIO DA ENCARNAÇÃO - CICLO DO NATAL

Aos seguidores: extraímos o presente texto da Edição típica do Missal de 1962, afim de fornecer uma base aos leitores que seguem a Forma Extraordinária da Santa Missa e consequentemente seu calendário litúrgico.


O MISTERIO DA ENCARNAÇÃO
CICLO DO NATAL



I) Tempo do Advento (IºDomingo do Advento- 24 de Dezembro)
2) Tempo do Natal (24 de Dezembro - 13 de Janeiro)
3) Tempo depois da Epifania (14 de Janeiro- Dom. da Septuagésima)



 TEMPO DEPOIS DA EPIFANIA 
 (Desde o dia 14 de Janeiro até o Domingo da Septuagésima) 



I. Exposição dogmática

O Ciclo do Natal é uma espécie de drama em atos, com o fim explícito de demonstrar de três maneiras distintas a encarnação do Verbo e a santificação do homem.
O primeiro ato, que decorre nas quatro semanas do Advento, revela-nos por meio de figuras e de alusões proféticas um Deus que se faz homem, e procura preparar-nos para tomar parte nesse grande mistério.

O segundo, que abrange com o Natal todos os mistérios da Infância do Salvador, faz-nos ver com os nossos olhos e tocar com as nossas mãos o Verbo da vida que estava no seio do Pai e nos apareceu para nos dar o poder de nos encontrarmos em comunhão com o Pai e com o Filho, Jesus Cristo.
O terceiro, que se desenrola no Tempo depois da Epifania e que é o prolongamento do Tempo do Natal, continua a demonstrar e a proclamar a divindade de Cristo. já não são os Anjos do “Glória in excélsis”, nem a estrela dos Magos, nem a voz do Pai e a aparição do Espírito Santo, mas é o próprio Jesus Cristo que fala e opera como Deus. Há de exigir de nós como veremos no ciclo da Páscoa, adesão incondicional do coração e de espírito à doutrina que nos vai anunciar; e para que seja legítima essa exigência e razoável a nossa adesão, quere fazê-Ia preceder de atos e palavras que revelem a sua autoridade divina. Com efeito os Evangelhos do 2°, 3° e 4° domingo. são extratos da série de milagres que S. Mateus nos relata e os do 5° e 6° das parábolas que o mesmo Evangelista refere em abono e prova da divindade messiânica de Jesus. Jesus impera à doença, ao mar, aos ventos; muda a água em vinho, faz prodígios de cura ao longe ou com um simples gesto. É verdadeiramente Deus e atua com modos e poderes que só a Deus convêm. Este período litúrgico, como de resto todo o ciclo do Natal, é, pois, como fica demonstrado, o tempo da Epifania, quer dizer, da manifestação da divindade de Cristo.
As palavras do Senhor são a expressão direta e sensível do pensamento de Deus. O que digo, digo-o como o disse meu Pai. E quem recebe com negligência a palavra do Senhor não é menos culpado que aquele que deixasse cair no chão as sagradas espécies. (S. Cesário de Arles).
O que S. Paulo afirmou da Eucaristia: « O que comer o Corpo do Senhor indignamente come a sua própria condenação " di-lo Jesus da sua palavra sagrada: “Quem não receber a minha palavra, a mesma palavra que anuncio o julgará no último dia”.
Mas Jesus não disse apenas a “verdade”; Jesus, conforme Ele mesmo afirma numa fórmula divinamente concisa, “fez a verdade”. Igual ao Pai por natureza, possuía a doutrina e a virtude do Pai. O Filho não pode fazer nada de si mesmo, mas só o que vir fazer ao Pai, porque tudo o que o Pai faz, fá-lo também o Filho '. E por isso as suas obras e palavras dão prova da sua divindade. As obras que faço em nome do Pai dão testemunho de mim a, Ninguém saberia falar e agir como Jesus, se não fosse Deus.
É o Senhor que o diz : “Se eu não tivesse vindo, nem lhes tivesse falado, não teriam culpa; agora não têm escusa possível; se eu não tivera praticado entre eles obras como nenhum outro praticou, estariam sem pecado; assim não têm escusa do pecado”.
Estas duas frases resumem relativamente a Jesus todo o tempo da Epifania.

E pelo que nos diz respeito é nas epístolas, extraídas do texto da de S. Paulo aos Romanos, que devemos procurar o espírito que informa o pensamento da Igreja nesta época. Deus fiel à promessa não somente convida os Judeus a entrar no reino que o seu Filho governa, mas cheio de misericórdia chama igualmente os Gentios que venham tomar parte neste grande império e que tornando-se nele membros de Jesus Cristo, se amem todos como irmãos. 

 
  2. Exposição histórica

No tempo de Nosso Senhor a Palestina andava dividida em quatro províncias. A oriente do Jordão ficava a Pereia; para ocidente, no sul,
a Judéia; no centro estendia-se a Samaria, e para norte a Galileia. Foi na última que se passaram os acontecimentos que constituem a trama da narrativa evangélica dos domingos da Epifania. Em Caná fez o Senhor o primeiro milagre (2° Domingo). Em Nazaré, na Sinagoga, pregou aquela doutrina que deslumbrava a todos que o ouviam. (Comunhão do 4°, 5° e 6° domingos). Foi ainda na Galileia que o Senhor curou o leproso. (Ev, do 3° domingo). Mas foi sobretudo em Cafarnaum, que fica a um dia de caminho de Nazaré, que Jesus pregou e mais prodígios fez. A seguir ao Sermão da montanha, que a tradição nos aponta como sendo a nordeste de Tiberíades, desceu Jesus à cidade e curou o servo do Centurião (Ev. 4° do 4° domingo). De cima de um barco, à margem do lago que tira o nome de Genesaré, “vale de flores” da larga faixa florida que lhe bordeja as praias pregou Jesus a parábola do semeador (Ev. do 5° domingo). As parábolas de que nos fala o Evangelho do 6° domingo foram pronunciadas mais tarde. Foi depois dum dia de esgotante pregação que o Senhor resolveu passar pela tarde à outra banda do lago, à pequena cidade de Gerza, que ficava na Pereia. O mar de Tiberlades formado pelas águas do Jordâo está sujeito a tempestades frequentes. Foi na passagem que o Senhor serenou as águas revoltas e mostrou mais uma vez aos Apóstolos que era o Filho de Deus.

 

 3. Exposição litúrgica

O Tempo depois da Epifania começa no dia seguinte à oitava de festa e vai, para o Temporal, até à Septuagésima, e para o antoral até à festa da Purificação (2 de Fevereiro).
Enquanto as festas do Natal e da Epifania, que têm dia marcado, dão a este ciclo um carácter de fixidez, o Ciclo da Páscoa, essencialmente tributário da lua pascal, é necessariamente móvel. E é assim que se a Páscoa vier mais cedo (oscila entre 22 de Março e 25 de Abril) O domingo da Septuagésirna, que é o nono antes da Páscoa, recua sobre o tempo da Epifania, reduzindo a um ou dois por vezes os domingos deste tempo. A cor dos paramentos é a verde. É a cor da esperança, da esperança duma colheita abundante, pois o Apóstolo diz que aquele que ara a geira, o faz com a doce esperança dos frutos que hão de vir. E neste tempo, com efeito, o campo da Igreja, semeado com a doutrina e as obras do Senhor, desabrocha na promessa verdejante dos frutos que virão, a seu tempo, lustrar de ouro as courelas. Sendo o eco ainda e o prolongamento do tempo do Natal, este Tempo caracteriza-se de maneira muito particular por uma santa alegria que nos instila na alma a consoladora certeza de termos a proteção dum Deus que é poderoso em palavras e obras.


*Fonte: Missal Cotidiano e Vesperal por DomGaspar Lefebvre, 1962