terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, OBS
Nº 398 - Ano: 1995 - p. 289


(1Tm 6,20)
São Paulo exorta seu discípulo Timóteo a guardar intato o depósito da fé; cf. 1Tm 6,20; 2Tm 1,14. - Nesta exortação há nítida referência às leis greco-romanas concernentes aos depósitos.  Com efeito; o depósito (parathéke) era um valor que alguém entregava a outrem para que o guardasse e oportunamente o devolvesse.  Selava-se entre o depositante e o depositário um contrato baseado na confiança e na certeza da fidelidade.  O depositário se obrigava a não fazer uso da coisa depositada; seria processado, se o fizesse.  O depósito infiel incorria na ira dos deuses.  Os moralistas gregos eram muito severos, equiparando a não restituição do depósito ao adultério ou à infidelidade conjugal; era mais grave do que não pagar uma dívida, porque traía a confiança de um amigo.  Alguns depósitos se faziam nos templos, pois os guardas dos templos inspiravam mais confiança do que os banqueiros.
São estas concepções que a palavra "depósito (parathéke) supõe nos textos paulinos.  Com efeito; o Apóstolo diz ter recebido de Cristo o depósito da fé: "Não recebi o Evangelho nem o aprendi de algum homem, mas por revelação de Jesus Cristo" (Gl, 1,12).  A lei não permitia que o retocasse; cf. 1Tm 1,12; 2Tm 2,8,10; Cl 1, 25-29.  São Paulo se considera mero ministro ou servidor do Evangelho (1Cor 4,1); era apenas um delegado do Senhor Jesus,  e não um dono do depósito; ele não havia criado a mensagem que apregoava e, por isto, não havia de a modificar; ao contrário, ele a queria transmitir intata: "Não falsificamos a Palavra de Deus; muito pelo contrário, manifestando a verdade, poder o Apóstolo dizer no fim da vida: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé" (2Tm 4,7).  Por isto também esperava ouvir a sentença dirigida ao servo bom e fiel: "Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor.  Justo Juiz, naquele Dia" (2Tm 4,8; cf. Mt 25,23).
O depósito recebido de Jesus Cristo, o Apóstolo o havia passado a Timóteo (2Tm 1,6,14), para que Timóteo o transmitisse a outros homens fiéis, e estes a mais outros: "O que aprendeste de mim na presença de numerosas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que, por sua vez, serão capazes de ensiná-lo a outros mais" (2 Tm 2,2).
Pois bem; a designação da mensagem do Evangelho como depósito enfatiza a intocabilidade das verdades da fé tais como nos foram transmitidas pelos Apóstolos (que as receberam de Jesus Cristo) através de gerações até hoje.  A heresia ou deterioração do depósito da fé é assemelhada à gangrena (2Tm 2,7).
As advertências do Apóstolo conservam seu pleno sentido em nossos dias.  A fé exige coerência; é sempre a adesão a Deus, que nos fala na penumbra da vida presente.  O cristão ou aceita este santo depósito com toda a sua grandeza ou - o que Deus não permita - o rejeita; não ouse, porém, retocá-lo ou deteriorá-lo!

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