AO PÉ DO ALTAR
A santa Missa em geral;
A divisão da Santa Missa;
A Santa Missa em geral.
Grandes preparativos, na verdade,
para o ato religioso que se está para começar!
O aparato até aqui apontado e
descrito visa só e unicamente a santa Missa. São preparativos remotos, sim, mas
intimamente conexos com o ato central da santa Missa. Este ato central,
augusto, sublime e cheio de mistérios, é o da consagração; ato em que o pão e o
vinho se transubstanciam no Corpo e Sangue de Jesus cristo. É o ato central em
torno do qual gravitam a bem dizer os outros atos, desde os mais remotos aos
mais próximos.
Descritos e explanados os atos
remotos, resta descrever e explanar os próximos. Antes, porém, de entrar nos
particulares, convém dar o conceito da Missa, a sua história, e suas partes
principais.
* * *
Que se entende por Missa?
Se é só questão de nome, Missa é
o que entre os gregos se chama “mistagogia”, que quer dizer, iniciação nos mistérios
de uma religião; Hierurgia, isto é, ação sagrada, santa; e liturgia, isto é,
rito.
Missa é o que entre os latinos se
chama sacrifício, oblação, agenda, ação por excelência, fração dos pães, oferta
e comunhão.
Tudo isso significa Missa e tudo
se qualifica pelo nome “Missa”.
Mas donde veio semelhante nome a
tão augusta ação, de modo a dominar todos os mais que são em si muito mais
expressivos e próprios para dar-nos dela uma ideia mais exata?
Veio do fato seguinte: Os
catecúmenos eram despedidos da assembleia dos fiéis antes de se iniciarem os
santos mistérios. Dizia-se-lhes então: “Ite, Missa est!” – Ide-vos, é a hora de
partir! – Outros diziam: - Ide-vos, estais despachados!
Não se perca pela expressão. O
pensamento é assaz claro: “Missa” vem do verbo latino “mittere” que quer dizer
ação de enviar, despachar, etc., donde a palavra “misso” – envio, despacho,
etc.
E porque de ordinário, seguiam à
despedida dos catecúmenos os sagrados mistérios, passou-se desde logo a
denominar “Missa” o conjunto de todos esses mistérios.
A Igreja continua ainda hoje, na
liturgia da Missa, a usar o “Ite, missa est”, com a única diferença de que
agora não já despede catecúmenos, a quem era vedado assistir ao santo
sacrifício, mas fiéis que acabam de assistir a ele. O “Ite, missa est’ de hoje
declara que a Missa acabou, ao passo que o de outrora dizia que a Missa ia
começar.
Restaria expender agora o
conceito de Missa quanto à sua essência; mas bastará recorda-lo, visto não
diferenciar em sua substancia do que se disse acima a respeito do “Sacrifício
da Nova Aliança”. Sempre, pois, que ouvimos falar de Missa, devemos, como
cristãos católicos, crer o que dela diz o Concílio Tridentino contra os hereges
de Lutero, Calvino, etc. quando assim a define:
“A Missa é o sacrifício da Nova
Lei, em que Cristo é oferecido e incruentamente imolado, debaixo das espécies
de pão e vinho, pelo ministério de um homem, em prol da Igreja, a fim de
reconhecer o supremo domínio de Deus e nos aplicar as satisfações (pelos
pecados) e os merecimentos de sua paixão”.
A santa Missa é, na verdade, como
já acima dissemos, um verdadeiro sacrifício: nela encontram-se os dois
elementos essenciais do sacrifício: a oblação e a imolação, como também o
elemento integral: a comunhão.
Que isto seja assim, bem se vê pela
definição do Concílio Tridentinno, que, anatematizando os inovadores do século
XVI, se exprime, a respeito, desta forma:
“Se alguém disser que na Missa
não se oferece a Deus um verdadeiro e próprio sacrifício, ou que o que se
oferece não é mais que o Cristo que se nos dá a nós em alimento, seja anátema”
(Sess. X, XII, can. 1).
* * *
Sabendo o que é a santa Missa,
pode-se passar a ver em traços rápidos a sua história, isto é, o seu
desenvolvimento quanto às preces e ritos.
Se voltarmos os olhos para a
primeira santa Missa, celebrada pelo seu próprio Instituidor, Jesus Cristo,
naquela memorável hora da última ceia; e se lermos o que São João Evangelista
escreve sobre as cerimônias e orações, nos convenceremos facilmente de que a
primeira Santa Missa continha em botão o que em séculos posteriores foi
desabrochando nesta formosa flor de sedutoras e impressionantes cerimônias
litúrgicas e sublimes e divinas orações rituais.
A santa Missa foi sempre a mesma
desde a sua origem até aos nossos tempos, se a considerarmos em sua essência;
mas assumiu disposições externas diversas através dos séculos, vindo a dar nas
que tem hoje.
Sendo diversos os ritos,
cerimônias e composição das orações, sobretudo na Igreja Oriental e Ocidental,
e sendo que a nós mais interessam as da Igreja Ocidental, a que pertencemos,
nestas nos demoraremos um pouco.
* * *
A flor da liturgia da santa Missa
se ostenta formosa e impressionante segundo o rito Romano, que é um dos ritos
ocidentais.
(N. B. O rito Oriental tem a
liturgia armênia, que supera em majestade e esplendor a liturgia romana. São
dignos de nota os ritos antigos, que constituem a Liturgia de S. Jacob, de S.
Cirilo de Jerusalém, de S. Basílio e de S. João Crisóstomo).
Outros houve que estiveram em uso
na Igreja Ocidental, como o rito galicano (a antiga liturgia da França), o rito
milanês ou liturgia ambrosiana e o rito mozarábico na Espanha.
(N. B. Liturgia seguida
antigamente na Espanha pelos Mozarábicos, cristãos vencidos e mesclados com
mouros desde o século VIII, chamados também Mistarábicos).
Passemos a historiar a origem e a
evolução do rito romano antigo,
para depois entrar a estudar mais de perto o rito romano novo fixado e prescrito
definitivamente para todo o Ocidente pelo Sumo Pontífice, o Papa S. Pio V, no século
XVI.
* * *
O cerimonial litúrgico antigo era um e o mesmo
para todos os celebrantes (papas, bispos e sacerdotes), existindo a única
diferença de que os simples sacerdotes não podiam cantar o "Gloria in
excelsis".
Segundo este cerimonial a Missa era
celebrada só cantando, e
por isso não podia haver numa e mesma igreja duas ou mais Missas ao mesmo
tempo.
Com o decorrer dos tempos, porém,
cresceu o número de sacerdotes, cresceu o número dos exigentes de Missas,
cresceu o número de igrejas, capelas, santuários e altares; e para se poder
satisfazer a tudo e a todos, introduziu-se no século VI a Missa lida, costume que se foi
generalizando de forma que as Missas cantadas se celebravam só no altar-mor ou
principal, onde os diáconos e subdiáconos tinham o ensejo de desempenhar o seu
ofício.
Mas nem por isso foram suprimidos
os elementos que constituem a Missa solene na Missa lida ou simples, com
exceção de uns poucos que se referem à incensação. Assim, pelo que diz respeito
às cerimônias rituais,
encontramos realmente uma inteira redução na missa lida ou simples; mas, pelo
que diz respeito às palavras, nela as encontramos todas. Se há nestas alguma
diferença, consiste só nisso: que as palavras ou orações cantadas na Missa
solene são proferidas em voz alta na Missa simples.
Há ainda outro importante fator
que induziu a que se celebrassem Missas simples: é que até ao sé- culo V as santas Missas eram
celebradas só nos domingos; na segunda metade do século quinto o papa S. Leão (460)
permitiu a celebração da santa Missa também nas quartas e sextas-feiras das
"Quatro Têmporas” na segunda metade do século VIII, o papa S. Gregórío II (731)
estendeu esta permissão para todos os dias da Quaresma, com exceção das quintas-feiras.
Pouco depois passou-se a honrar
de modo mais público a Virgem, Mãe de Deus, para o que se escolheu de preferência
o dia de sábado; e como a santa Missa é o ato por excelência, a fim de honrar e
venerar a Mãe de Deus, os santos e devotos obtiveram dos Sumos Pontífices a
licença de celebrar todos os sábados do ano.
Finalmente, já por um, já por
outro motivo, honraram-se dentro em breve todos os dias da semana com a
oblação do santo sacrifício.
O único dia do ano em que é
vedada a celebração da santa Missa, e isto ainda hoje, é o dia da sexta-feira santa. Supre-se todavia
com a Missa chamada dos Pressantificados. (N. B. Chama-se Missa dos
pressantificados a que o sacerdote oferece no altar e comunga com as espécies
eucarísticas consagradas na vigília; no dia mesmo não se faz a consagração).
Não satisfeita a .Igreja com esta
graça, concedeu a celebração da santa Missa mesmo duas e mais vezes ao dia a cada sacerdote, o que
é ainda hoje permitido a
alguns sacerdotes em caso de necessidade e com licença prévia do bispo, como
seja o binar (dizer duas missas) em festas de guarda, na falta de sacerdotes.
Parece ter sido de uso comum no século IX e seguintes que um só mesmo
sacerdote celebrasse mais Missas ao dia. Certo é que o
papa S. Leão (795-816)
oferecia às vezes sete e mais vezes o santo sacrifício cada dia. E quem não diria provir deste
tempo o costume que, a partir de 10- VIII-1915, vigora em toda a Igreja
Ocidental de os padres celebrarem ainda hoje três santas Missas na festa do
santo Natal e no dia dos Finados?
* * *
Por tudo isto se entende
perfeitamente a redução do aparato exterior na celebração da santa Missa; donde
se originou a Missa rezada (simples), sem todavia eliminar a cantada, (solene).
Diga-se desde já, que é nosso intento descrever logo abaixo a santa Missa
solene, visto encontrarem-se nesta os elementos todos que estão numa Missa
simples.
Este desenvolvimento tão
favorável e a gosto dos sacerdotes teve outra consequência: a de os sacerdotes
poderem rezar suas Missas independentemente dos respetivos bispos, porquanto fora
primitivamente uso universal que os sacerdotes rezassem a santa Missa
juntamente com o próprio bispo, (concelebratío). da mesma forma como hoje os
neo-presbíteros, no dia da ordenação, rezam a sua primeira Missa com o bispo
consagrante.
Este modo de rezar a santa Missa
está ainda em prática na Igreja Oriental.
Baste o dito sobre o
desenvolvimento geral da ação externa da santa Missa; porque pelo que diz
respeito ao seu desenvolvimento particular assim da ação externa como interna,
dir-se-á de passagem e "occasíone data" logo mais, quando
descrevermos a santa Missa solene segundo o novo rito romano.
Passemos agora à divisão da santa Missa.
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